A coleta seletiva em Criciúma alcança 80% dos bairros da cidade, conforme dados da Diretoria do Meio Ambiente. A prática é essencial para a preservação ambiental, reduzindo impactos como entupimento de bueiros e poluição das águas em casos de enchentes. No entanto, desafios como a contaminação de materiais recicláveis e o consumo excessivo ainda comprometem a eficácia do sistema.
“Esses resíduos produzem um líquido chamado chorume quando começam a se decompor. Esse líquido, ao entrar em contato com a terra, a torna imprópria e ácida. Além disso, materiais como plástico e metal demoram a se decompor e podem se acumular em bueiros, agravando os riscos de enchentes”, alerta a chefe do Departamento de Educação Ambiental da Diretoria do Meio Ambiente, Júlia Guissone.
Segundo levantamento da Racli em junho de 2024, Criciúma gera mais de 160 toneladas de lixo diariamente. Um dos principais problemas enfrentados é a destinação inadequada de materiais recicláveis, que acabam nos aterros sanitários.
“Hoje, um aterro sanitário tem uma expectativa de vida de apenas nove anos porque recebe muito material misturado, incluindo recicláveis que poderiam ser enviados para as cooperativas de catadores. No entanto, esses materiais são frequentemente descartados com resquícios orgânicos, inviabilizando a reciclagem”, acrescenta Júlia.
Outro fator que intensifica o problema é o consumo exacerbado impulsionado pela obsolescência programada. “Nosso estilo de vida incentiva um consumo muito maior do que antigamente. Muitos produtos são fabricados para terem curta durabilidade, gerando descarte excessivo. Além disso, muitos desses produtos contêm materiais plásticos que não são recicláveis”, enfatiza a especialista.
O descarte inadequado também impacta diretamente associações de catadores, como a Associação Criciumense de Catadores (Acrica). O presidente da entidade, Rogério Barbosa, relata que a associação recebe cerca de 800 quilos de materiais, mas aproximadamente 400 quilos são descartados por estarem sujos com restos de comida ou por serem feitos de materiais não recicláveis. “Isso reduz significativamente o volume de itens que podem ser reaproveitados”, lamenta.
Entre os materiais reciclados pela Acrica estão garrafas PET, papel, alguns tipos de vidro e metais. No entanto, a mistura com itens inadequados, como roupas e plásticos contaminados, dificulta a comercialização e impacta a renda dos trabalhadores. “Separar esses materiais exige tempo e esforço, e a qualidade dos recicláveis influencia diretamente no valor arrecadado ao final do mês”, conclui Barbosa.
