Perus em ceias natalinas e os churrascos com familiares, costumam ser pratos favoritos para os cardápios em final de ano. Porém, são momentos de dificuldades para encontrar comidas veganas e vegetarianas. Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE), a taxa de veganos e vegetarianos no Brasil é 16% e, como a maior parte dos pratos tem a inclusão da carne como alimento principal, as refeições podem causar exclusões aos praticantes dessas alimentações. 

De acordo com a vegana e auxilar veterinária, Jully Ardenghi Grins, é possível encontrar adaptações. Entretanto, a dificuldade está presente nos doces, pela falta de opções nos pratos veganos. Já em relação aos estabelecimentos é preciso tomar cuidado nos modos de preparo de cada prato. 

“Quando falamos de alimentação vegana, praticamente, tudo é incluso, menos os derivados e a carne. Alguns alimentos como arroz, mandioca e batata, tudo isso é considerado vegano. Mas, os cuidados em restaurantes e lanchonetes têm que ser precisos em relação ao preparo. Cuidar na hora e ver se não será utilizado nenhum ingrediente de origem animal”, pondera.  

Já para a vegetariana Sabrina da Silva Becker, a maior dificuldade nos cardápios em final de ano é que não são pensados para pessoas vegetarianas e veganas. Os pratos principais possuem carne, leite, ovos e derivados de animais, se tornando inviável. Todavia, os estabelecimentos e os cardápios estão evoluindo e incluindo o vegetarianismo e o veganismo em suas refeições. 

“Sou vegetariana há 8 anos. Na época em que eu comecei era difícil achar alimentos feitos nos restaurantes e mercados. Hoje em dia essa realidade é bem diferente. A maioria dos mercados possui setores dedicados a alimentações restritas, e os restaurantes possuem até pratos específicos”, assinala. 

Preconceito na prática alimentar 

Jully afirma que comentários preconceituosos costumam ocorrer. As pessoas até se interessam sobre o assunto, só que na prática não oferecem opções de comidas veganas e vegetarianas na preparação da refeição. Ficam apenas falando em várias maneiras diferentes da preparação da carne, porque a própria cultura já determina que a exploração animal é normal.  

“Isso deixa tudo desagradável. Então, as pessoas nem tentam ser simpáticas e falam que esse tipo de alimentação é loucura. Já tive que dizer que eu tinha alergia à carne e derivados para comprar algo em certos estabelecimentos, ou para encerrar uma conversa. Se tiver alguém que já pensa nos seus hábitos alimentares ajuda, se não, o jeito é ir em algum lugar que o sentimento de empatia faça você se sentir acolhido em relação a sua alimentação”, ressalta. 

Conforme Sabrina, ela ainda escuta pessoas fazendo comentários sem fundamentos científicos entre animais e plantas e, até mesmo aplicando piadas inconvenientes. “Como a alimentação a base de carne na maioria das famílias brasileiras foi algo ensinado de geração para geração, portanto acredito que quando esse ciclo se quebra, gera certos preconceitos”, explica. 

Visão nutricional e dicas no cardápio 

Segundo a nutricionista, Louyse Sulzbach Damázio, sob o ponto de vista nutricional o final de ano tem o consumo de alimentos gordurosos, com redução na ingestão de vegetais. Então, a atenção do vegetariano e vegano nestes períodos de festas, é se voltar ao consumo de alimentos de origem vegetal como feijão, grão de bico, lentilha e ervilha. 

“Além disso, buscar consumir alimentos crus, como saladas verdes e frutas cítricas. Nas festas sempre é bom levar pratos que possam ser feitos com a substituição da carne na composição. Práticas assim mostram para as pessoas os pratos coloridos, e também que a alimentação vegetariana é saborosa. Principalmente, para quem possui resistência em práticas alimentares assim”, estabelece. 

Preconceito menor para comidas veganas e vegetarianas

Louyse também destaca que, atualmente, a visão dos vegetarianos e veganos melhorou. Com a disseminação das redes sociais e o acesso da internet, as pessoas enxergam essa alimentação com outros olhos. “Acho que estamos caminhando para consciências alimentares favoráveis. Só ter empatia por todas as pessoas, assim conseguimos compreender o sentido do vegetarianismo e do veganismo”, completa. 

Como dica para começar a ser vegano ou vegetariano, Louyse traz sugestões. Primeiro, nunca pensar que essa alimentação é apenas a substituição da carne. É preciso pensar que são adições de saúde, bem-estar e de conexão com seu propósito alimentar. Adições de nutrientes, alimentos diferentes e aumento no consumo de vegetais, frutas e leguminosas e, aos poucos, o consumo de carne reduz. 

“Dicas de pratos e receitas com substituições de carne, são o arroz à grega, quiche, empadão, rocambole de proteínas e de lentilha, batata recheada e até tomates recheados, junto com as saladas, feijão branco e grão de bico. Dessa forma, o prato fica recheado em sabor e equilibra o valor nutricional da alimentação”, pondera a nutricionista.