Viviane Reis é mãe de dois filhos, o João Pedro e a Maria Clara. Clarinha, carinhosamente apelidada pela família, é diagnosticada com Síndrome de Down. “A gente teve certeza do diagnóstico apenas no momento do nascimento. É claro que tínhamos uma pulga atrás da orelha, mas eu e meu marido decidimos não fazer nenhum exame invasivo. Naquela época ainda não existia o exame de sangue, então as chances de descobrirmos algo foi diminuindo. Porém, quando dei à luz, já era perceptível algumas características”, conta a mãe.
Para a família de Thalia de Oliveira da Rosa, que também possui a T21, tratar sobre o preconceito, velado ou não, que ainda existe, também é importante. “Nós sempre conversamos sobre esse assunto com a Thalia. A gente tenta conscientizar que a Síndrome de Down é uma condição. Que a pessoa com deficiência tem direito a fazer aquilo que ela quer, que ela não é privada de liberdade e que tem os mesmos direitos civis”, lembra a irmã, Inaiá de Oliveira.
Indo em busca de seus sonhos, Thalia foi eleita rainha da 30ª Festa do Colono de Maracajá, sendo a única competidora que tem a condição. “Foi muito emocionante, muito bonito. Eu fiquei muito feliz de ter conquistado este título”, comemora ela.
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Thalia de Oliveira da Rosa na competição para rainha da 30ª Festa
do Colono de Maracajá/Foto: Divulgação
“Ninguém sabe o sentimento que vai rolar na hora do diagnóstico, porque cada um tem sua história, porém, quanto mais informações de qualidade chegarem para toda a sociedade, é natural que cada vez menos as pessoas vão lamentar o nascimento de crianças com Síndrome de Down, porque elas vão entender que existem oportunidades onde muitos ainda tentam mostrar limitações”, destaca Vivi.
O cuidado de entender a condição
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Alguns descobrem antes do nascimento, com o exame intra-uterino, que acontece no primeiro trimestre da gestação, mas nem todos os casos são assim. Após a descoberta da condição, uma espécie de “luto” é imposto pela sociedade. O acompanhamento psicológico da família é de extrema importância, principalmente quando o diagnóstico vem depois da criança nascer.
“A maioria dos pais vivem de forma muito intensa e com sofrimento a notícia do diagnóstico. Geralmente, quando recebem a notícia da gestação, idealizam o seu bebê, seu nome, sexo e características, a possibilidade de uma doença nunca parte desse momento. É por isso que, em alguns casos, é tão difícil a aceitação”, explica a psicóloga da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Criciúma, Aline Marques.
Viviane e o marido resolveram buscar ajuda psicológica, mas, no meio do caminho, passaram a enxergar a situação com outros olhos. “As pessoas, na época, me falavam muito sobre esse luto do filho idealizado, e isso me incomodava bastante. Eu comecei a me identificar muito mais com celebrar a vida do que me lamentar por um diagnóstico, afinal de contas, minha filha estava viva e feliz”, declara a mãe.
Além disso, alguns cuidados devem seguir por toda a vida, tanto para os pais quanto para o paciente. “Eles precisam lidar com o filho real, com Síndrome de Down, uma condição genética que não tem cura e que, dependendo de seu quadro clínico, sempre necessitará de cuidados e acompanhamento”, pontua a psicóloga.
Para a pessoa que possui a T21, os cuidados psicológicos começam nas atitudes básicas. “O atendimento psicológico a pessoas com Síndrome de Down vai depender de cada caso, desde o auxílio no desfralde, na interação social, quanto no ajuste de comportamento, bem como da avaliação da inteligência e potencialidades de cada um”, finaliza Aline.
As adaptações do dia a dia
A mudança na vida dos pais após o nascimento de um filho é inevitável. A rotina se intensifica e cuidados com a saúde e a educação dos pequenos viram o foco principal. Ser pai e mãe de crianças com Síndrome de Down requer uma atenção ainda mais especial. “No início, quando a Thalia tinha três meses, eu levava ela em uma cidade vizinha para fazer fisioterapia, três vezes na semana. Isso durou uns dois anos, depois começou a ter fisioterapia em Maracajá e eu levei aqui”conta Ilvilena de Oliveira, mãe da Thalia.
Para Viviane, no princípio, lidar com o processo de adaptação foi uma tarefa complicada. “Era um momento muito difícil, porque eram ambientes frios e que não acolhiam. Eu lembro que, em uma das vezes que levei a Clarinha para a fisioterapia, parei o carro e chorei muito. Queria estar levando ela para a praia, e não para a fisioterapia”, lembra. Com o passar do tempo, o entendimento de que era um processo importante para o desenvolvimento de sua filha fez o sentimento mudar. “Pelo bem da minha bebê, eu passei a colocar na agenda mesmo, como se fosse um trabalho. Então sabia que ela tinha que ir para a terapia, fonoaudiologia e fisioterapia. Passou a ser um compromisso importante”, relata a escritora.
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Uma boa alimentação também é pré-requisito para uma vida saudável e balanceada. Segundo a nutricionista Isadora da Rosa Marcello, pessoas com Trissomia necessitam de uma maior cautela, sendo de extrema importância o acompanhamento nutricional desde o início da vida. “Pacientes com Síndrome de Down vão ter algumas particularidades, eles são mais propensos a desenvolverem doenças como diabetes e obesidade, além das alterações intestinais”, afirma.
Isadora ainda destaca que o intestino grosso desses pacientes é mais longo e funciona de uma forma mais devagar. “Isso acontece devido à hipotonia do tecido muscular que não consegue realizar movimentos peristálticos com força o suficiente para expelir as fezes. Isso pode levar a quadros de constipação intestinal, dores, vômitos, náuseas, irritabilidade e refluxo, entre outros sintomas”, completa.
Um lar inclusivo para alunos com necessidades especiais
Em Criciúma, aqueles que possuem a síndrome não estão desamparados. A Apae da cidade surgiu em 1958, com o objetivo de proporcionar o desenvolvimento dos alunos com necessidades educacionais especiais. Atualmente, 350 estudantes frequentam a unidade criciumense desde o nascimento até a idade adulta.
Afinal, o que é a Síndrome de Down?
Definida como uma ocorrência genética natural que acontece por motivos desconhecidos, na gestação, durante a divisão das células do embrião, pelo Ministério da Saúde, a síndrome é uma alteração cromossômica que acontece quando crianças nascem dotadas de três cromossomos 21, e não dois, como o habitual. Ao invés de nascerem com 46 cromossomos, as pessoas com Down nascem com 47.
No Brasil, a estimativa é que em cada 700 nascimentos ocorre um caso de Trissomia 21. De acordo com o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aproximadamente 300 mil pessoas no país são portadoras da Síndrome de Down, e a região com maior prevalência dos casos é o Sul.
Segundo a Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down, a Trissomia 21 foi descrita clinicamente pela primeira vez pelo médico John Langdon Down, em 1866, e foi a primeira síndrome de origem cromossômica a ser definida. Em 1958, ela passou a ser considerada genética, por conta de uma descoberta feita pelo francês Jérôme Lejeune e pela inglesa Pat Jacobs.
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*Texto dos acadêmicos Luis Miguel e Manuela Linemburger, produzido na disciplina de Jornalismo e opinião.