O grafite surgiu na década de 1970, e sua presença nas ruas de Criciúma é perceptiva para todos que passam em diferentes pontos da cidade. Apesar de ser confundido com a pichação, ele não se relaciona mais com o vandalismo de patrimônios. Com base na Constituição Federal, no ano 2011 entrou em vigor uma conduta que passou a considerar o grafite uma arte legalizada, quando se tem o consentimento do proprietário.

Segundo o grafiteiro Ricardo Herok, atualmente, o grafite está em outro patamar, porque os primeiros artistas nunca conseguiram ganhar o reconhecimento que os artistas de hoje alcançaram. “Um vasto mercado está se expandindo para quem produz esse tipo de arte, fazendo o grafiteiro ter diversas formas de exploração para suas produções artísticas”, explica.

Já para o artista Guilherme Amante, a demanda por algo pessoal, personalizado e de identidades urbanas está maior no momento. Se relacionando, individualmente, com as pessoas e com a cidade deixando o grafite cada vez mais em crescimento. “Ele traz sentimentos e dissociações de identidade que é reencontrada na arte. As pessoas se identificam com o que elas veem nas paredes, aquilo busca algo que estava perdido em suas memórias”, destaca.

Grafite e pichação

A comparação com a pichação e com o vandalismo costuma acontecer na vida daqueles que fazem grafite. Para Herok, essa comparação acontece porque as pessoas têm um grau pequeno de informação. Quando surgiu, o grafite tinha a mesma função que a pichação, mas agora ele conquistou uma evolução em diversos campos artísticos como na moda e na arquitetura. ´

Ele é composto por uma paleta de cor extensa, com contornos, sub-contornos e preenchimentos deixando uma visão agradável aos olhos. “E a lata de spray sempre se torna a vilã, estar com ela na mão fazendo o esboço do trabalho recém começado na rua, a comparação com o pichador costuma acontecer”, estabelece Herok.

Em contradição, para Amante, essa comparação com a pichação não acontece. Há uma percepção e validação diferente uma da outra, e aquilo que tem significado para alguém não é apreendido pelo conjunto de pessoas que passando pelas ruas veem. “A produção artística pode ser uma percepção individual que se coletiviza, o sucesso seria quando muitas pessoas se identificam com essa ou aquela obra”, ressalta.

O consentimento na hora de conseguir um espaço para pintar é a primeira etapa entre todos que grafitam. E Criciúma não tem um espaço urbano muito grande para os trabalhos. A invenção em certos espaços costuma acontecer como em becos, ruas e vielas, que são a parte orgânica da cidade e onde as pessoas caminham a pé, sentam e conversam. E outros espaços são dominados por empresas e construções imobiliárias. “Muitas dessas são empresas, franquias, que não se sabe os donos. O que torna difícil conseguir permissão para pintar determinadas paredes”, diz Amante.

Viver pela arte de grafitar

Aqueles que vivem dessa forma de arte seguem certos requisitos. Aprender a lidar com as pessoas, saber se comportar e respeitar para ser respeitado, tudo não deixa de ser uma escola de aprendizado. “O grafite na minha vida foi o que me ensinou a ser uma pessoa melhor, e trabalhar com isso foi um sonho realizado. Eu sou meu próprio patrão, trabalho e vivo totalmente disso e estou sempre construindo novas metas para serem alcançadas. Evoluindo cada vez mais no que eu faço”, assinala Herok.

Para Amante, o grafite foi essencial para o desenvolvimento pessoal e comunicativo. Um bloqueio de personalidade melhorado pelos trabalhos como grafiteiro. “Eu tive uma depressão profunda e o grafite me ajudou a dar um sentido e propósito, vencido no desenho e na pintura”, finaliza.