Por quase oito meses um silêncio estranho tomou conta de corredores, quadras e salas do Colégio Satc. Era o nem tão longínquo 2020 e o mundo passava por uma pandemia que exigia o isolamento e o distanciamento. Isso pode parecer que faz anos, mas não. Foi ontem! Ainda se vive uma pandemia provocada pelo novo coronavírus, por isso, as medidas de distanciamento são necessárias, mas, aos poucos, uma certa normalidade tenta ocorrer também na disciplina de educação física. A volta às aulas, de maneira escalonada e com novos protocolos sanitários, permitiu que os corredores voltassem a ter as risadas e a balbúrdia dos alunos.
Professor tem que estar perto do aluno, olhando no olho, conversando, construindo saberes em conjunto, e imagine o quanto isso é fundamental para as aulas de educação física. “Pode parecer uma coisa simples, mas na primeira vez que voltei a usar o apito, arrepiou”, conta o professor Ademir Adão Alexandre, o Mineirão.
Ele faz parte do grupo seleto de educadores físicos da Satc. Profissionais que atuam em várias frentes, desde a sala de aula, academia, até esportes de competição. E são unânimes ao lembrar o quanto 2020 foi desafiador. “Percebemos um cansaço, um desânimo geral. Passava para os alunos da academia exercícios, mas mesmo aqueles que tinham equipamentos em casa não faziam”, comenta o professor João de Brida, responsável pela academia da Satc. “Foi preciso adaptar aulas, gravar vídeos e fazer com que eles praticassem usando coisas de casa, como bolinhas ou até uma vassoura”, afirma a professora Bruna Semeler.
Para quem pratica o esporte de rendimentos e não tem as competições para motivar, o desafio foi ainda maior. Foi assim em 2020 para as equipes de basquete feminino da instituição. A técnica e professora Luana Scaini Minotto precisou se desdobrar para animar o grupo. “Conversávamos online todos os dias e sempre tinha que buscar um treino novo, um desafio e até uma taça de açaí para quem vencia”, afirma.
Educação física é com emoção
“Quando fechamos as portas em março do ano passado a gente achou que voltaria em uma, duas semanas. Mas não. Foram alguns meses”, relembra João. O professor Antônio Luiz Soratto, o Toninho, que coordena a equipe de Educação Física, passou pelo Colégio em alguns momentos e sentiu o silêncio da ausência. “Nossa vida são os alunos. Correndo, brincando, jogando bola, rindo. Inegavelmente, foi bem difícil passar aqui e não ver ninguém”.
De casa, eles se dividiam dando aulas de educação física remotas, criando brincadeiras e mobilizando as famílias para que atuassem junto. “Trabalhamos mais conceitos teóricos, os fundamentos dos esportes”, relembra a professora Maria de Fátima Denoni. “Quase virei um youtuber”, brinca Mineirão.
Volta às aulas com saudades
Em 2021, na volta às aulas, o escalonamento permitiu que estudantes e professores finalmente se reencontrassem de maneira mais efetiva. Se não dá para abraçar, o soquinho ou um toque com os pés ameniza um pouco e serve para transmitir carinho. “Sentimos falta disso, do toque, do abraço, mas ainda é preciso ter calma”, ressalta Bruna. “Mas percebemos o quanto eles querem estar aqui, junto com os amigos e professores”, afirma o professor Jairo Bressan.
Para amenizar isso, os educadores físicos usam os espaços abertos que o Colégio Satc oferece. Afinal, é possível utilizar os campos de futebol, quadras esportivas, ginásios, pistas de corrida e até caminhadas na área verde são as opções. “Temos percebido que as crianças estão sem fôlego. O ano passado, com eles muito parados, teve seu preço, conforme observamos. É só dar uma corrida, que eles cansam”, explica Jairo.
Uma tradição na educação física e no esporte
A relação da Satc com a prática esportiva se apresenta como resultado do seu início como escola de formação técnica. Professor Toninho lembra que essa era uma característica trazida pelos Irmãos Marista, os primeiros diretores, que, embora religiosos, valorizavam muito o esporte. Na adolescência, Toninho foi aluno do Colégio Lapagesse e também do Colegião, aliás já disputando competições no atletismo. “Era uma encrenca quando tinha aluno da Satc na disputa. A gente já sabia que ia ter que brigar pelo segundo ou terceiro lugar, porque o primeiro era da Satc”, afirma.
Conforme Toninho, a tradição que iniciou com o futebol e atletismo se propagou por outras modalidades. Basquete, futsal, handebol, caratê, xadrez, capoeira são opções que fazem, ou já fizeram, a alegria de centenas de jovens, tanto em competições como na prática diária das aulas.
Muitas histórias nos campos da escola
Juntar essa turma do esporte não é fácil. São gerações diferentes, mas que se renovam na troca de conhecimentos diários. “Quando a gente era aluno o processo de seleção era bem diferente. Se um aluno não fosse bom no esporte, às vezes, o professor deixava ele no banco”, relembra João. “Hoje trabalhamos com recreação, socialização e inclusão. A criança aprende a trabalhar em equipe”, comenta Toninho.
Com tantos espaços disponíveis, outras equipes já realizaram assim parcerias com a Satc para treinar. Futebol americano, punhobol, rúgbi e até os escoteiros aproveitam ou já aproveitaram a estrutura para treinar, aprimorar rendimentos e se divertir.
O professor Toninho lembra de visitantes ilustres da década de 1990. “Quando o Criciúma não tinha o seu centro de treinamento era aqui que eles vinham”, comenta. O técnico Felipão e o time campeão da Copa do Brasil de 1991 usava os campos da Satc (hoje o Tigre tem seu próprio CT) para fazer seus treinamentos e sentir a energia boa que circula na escola, até os dias atuais.