A saúde mental nunca foi tão discutida quanto no século XXI. Em meio à crescente pressão por desempenho quase perfeito, muitos trabalhadores enfrentam ambientes tóxicos que afetam profundamente seu bem-estar emocional.
Segundo dados do Ministério da Previdência Social, mais de 472 mil licenças médicas foram concedidas em 2024 por transtornos mentais, um aumento de 68% em relação a 2023. O número é o maior da última década. Ansiedade (8.087 casos) e depressão (8.587) lideram as causas desses afastamentos, refletindo o esgotamento psicológico enfrentado por profissionais em todo o país.
Entre os casos registrados está o da auxiliar de estilo Mariana Duarte Rodrigues, de 25 anos, que enfrentou violência psicológica em três dos mais de cinco empregos que teve. As consequências foram profundas: afastamento da família e dos amigos, crises de ansiedade, sensação constante de cansaço e impotência.
Em seu primeiro caso, Mariana trabalhava como secretária em uma empresa de design. Na prática, acumulava diversas funções além do cargo contratado. Em outra experiência, atuava como repórter web em uma empresa de comunicação, ambas situadas em Araranguá (SC).
Ela relata ter sido vítima de jornadas excessivas não compensadas, falta de feedback, ambiente sem hierarquia clara e condutas desrespeitosas entre colegas, muitas vezes ignoradas pela liderança.
“Uma vez eu revidei uma fala sobre minha pessoa. Uma colega levantou e gritou: ‘Tu não tem autismo, não tem o diagnóstico, para de usar isso como desculpa’”, conta Mariana. Ela é diagnosticada com TDAH e, na época, estava em investigação para autismo — hipótese depois descartada.
Além do sofrimento psicológico, Mariana também enfrenta tricotilomania — transtorno de ansiedade que leva a pessoa a arrancar os próprios cabelos. “Eu chegava na faculdade sem energia, não conseguia dar 100% de mim”, lembra.
Em sua experiência mais recente, em outra empresa de design gráfico, Mariana relata que o ambiente foi um pouco mais tranquilo, mas ainda teve que lidar com uma gestora que criticava constantemente suas ações.
Quando o abuso não deixa marcas físicas
A violência psicológica no ambiente de trabalho é frequentemente subestimada por não deixar marcas visíveis. O psicólogo Andrew Almeida explica como diferenciá-la de um simples conflito pontual:
“Uma coisa é termos um desentendimento e isso gerar um mal-estar momentâneo. Outra, bem diferente, é quando atitudes contínuas visam te diminuir ou fragilizar emocionalmente. Isso configura violência psicológica”, explica.
Segundo o especialista, o abuso pode ocorrer sem qualquer desentendimento prévio e se manifesta por meio de comportamentos repetitivos como:
- Humilhações públicas
- Críticas destrutivas constantes
- Ameaças sem justificativa
- Uso de palavras pejorativas
- Isolamento do funcionário como forma de punição
Apoio às vítimas: onde buscar ajuda
Para muitas vítimas, saber onde buscar ajuda é um desafio. Mariana encontrou apoio no Navit (Núcleo de Apoio a Vítimas de Crimes), serviço vinculado ao Ministério Público de Santa Catarina.
Com base nos pilares “atendimento, apoio e acompanhamento”, o Navit oferece suporte psicológico, jurídico e informativo a pessoas que sofreram crimes, ameaças ou violência.
“A forma como fui recebida fez toda a diferença. O Navit foi onde encontrei informações sobre os meus direitos e sobre como agir diante da situação”, conta Mariana.
O serviço é gratuito e pode ser acessado por qualquer cidadão. Informações estão disponíveis no site oficial do MPSC: www.mpsc.mp.br.
Reportagem produzida pelos acadêmicos do curos de Jornalismo da UniSatc Julia Pacheco, Luiza Salvador e Renan Espíndola, sob a orientação do professor Filipe Gabriel.