O suicídio é uma das causas de morte entre jovens de 15 a 29 anos no Brasil. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 12 mil casos ocorrem por ano no país, fora a quantidade muito maior de tentativas que acontecem anualmente.

Quem trabalha diretamente com os jovens, sabe que esse assunto precisa ser mais debatido. A psicóloga Renata dos Santos atua no Centro de Atendimento Socioeducativo de Criciúma, atendendo adolescentes infratores, e também trabalha em psicologia clínica. Para ela, o principal comportamento que as pessoas sinalizam é a falta de desejo pela continuidade da vida.

“Em um contexto de vulnerabilidade, onde não se garante os direitos mínimos, isso se torna um outro fator de risco. A OMS coloca a adolescência também como um fator de risco. Por isso, é fundamental compreender que transtornos mentais podem também estar aliados e situações traumáticas podem ser quadros agravantes”, pondera a especialista.

A equipe que atua junto à Rede de Proteção à Vida (RPV), de Criciúma, sabe que os sinais anteriores revelam um comportamento de quem pensa em tirar a própria vida. “A pessoa se isola, não faz mais o que gostava de fazer anteriormente, deixa de cuidar de si mesma. Isso não quer dizer que ela vá ter pensamentos suicidas, mas mostra alteração de humor, mostra sofrimento emocional, sendo assim comportamentos que devem ter acompanhamento profissional”, ressalta a psicóloga Márcia Fedalto, voluntária da RPV.

Buscar apoio para tratar o problema

O sinal mais evidente que o suicídio está próximo são as tentativas anteriores. Mas também há sinais sutis que devem ser observados. “As mutilações também são percebidas. Elas são uma tentativa de livrar-se da dor psíquica, transferindo-a para seu próprio corpo, se tornando o fator mais visível de demonstração do comportamento suicida. Nesse ponto, é quando o sujeito já não mais consegue explicar a sua dor em palavras”, complementa Renata.

As profissionais explicam sobre como proceder em casos de um familiar ou um amigo apresentar estes sinais. “A primeira coisa a se fazer é se aproximar dessa pessoa, sem julgamentos ou críticas, com acolhimento. E, principalmente, procurar ajuda profissional, em unidades médicas, nas UPAs, com psiquiatras, psicólogos. Ainda pode-se entrar em contato com o CVV, ligando para o número 188. Mas sem usar frases de efeito como ‘isso vai passar’, ‘isso não é assim’, pois não sabemos realmente a dor do outro”, reforça Márcia.

Psicólogas rebatem ditados populares

 “Quem fala não faz”: “Quem fala pode sim vir a fazer, e sim a pessoa quer chamar a atenção, mas para um sofrimento que ela não está conseguindo dar conta, e precisamos validar isso, isso não é frescura”, confirma Renata. “Quem fala não faz é um mito, e se a pessoa está verbalizando é porque há algo de errado, e já requer atenção”, destaca Márcia.

“Um ponto que os estudos falam é sobre a divulgação do suicídio de celebridades e influenciadores, que são pessoas que podem influenciar de maneiras positivas, mas também podem influenciar a passagem ao ato diante do seu sofrimento”, adiciona Renata.

Conforme Márcia, cada caso deve ser analisado com atenção. “Cada caso requer sempre muito cuidado, um profissional nunca vai cuidar dele sozinho, mas encaminhamos sempre um tratamento multidisciplinar, com apoio de psiquiatras, médicos e assistentes sociais. Além disso, buscamos uma rede de apoio familiar ou de amigos para acompanhamento dessa pessoa”.

*Texto do acadêmico Davi Brabos Azevedo, produzido na disciplina de Texto Jornalístico +. Essa reportagem faz parte do projeto de prevenção e apoio à Rede de Proteção à Vida de Criciúma.