A violência contra a mulher é um problema estrutural que persiste há gerações. No entanto, só passou a ganhar maior visibilidade com a criação da Lei Maria da Penha, sancionada em 7 de agosto de 2006. A legislação representou um marco importante na luta pelos direitos das mulheres, ao garantir mecanismos de proteção e permitir o registro formal de casos de violência doméstica.
Em 2024, segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), mais de 966 mil novos casos de violência doméstica foram registrados no Brasil. Os números reforçam que a violência contra a mulher não se resume a agressões físicas. Ela pode se manifestar de forma psicológica, sexual, patrimonial e moral.
Apesar dos avanços proporcionados pela legislação, um fenômeno ainda chama a atenção: o número expressivo de mulheres que desistem das denúncias e retornam ao convívio com os agressores.
“Dos casos que atendemos, de 0 a 100, pelo menos 90% das mulheres voltam a morar com os companheiros e não querem mais a medida protetiva”, afirma a residente jurídica de Núcleo de Atendimento às Vítimas de Violência (Navit), Nancy de Souza Cardozo.
A principal razão para esse comportamento é a dependência emocional. Segundo a psicóloga Ana Maria Negreiros, muitas mulheres carregam uma carga cultural de submissão, o que interfere diretamente em suas decisões. “Elas são ensinadas desde cedo que tudo na vida deve girar em torno do marido: tudo é dele e para ele”, explica.
Essa visão distorcida leva à anulação da identidade feminina. Com a autoestima fragilizada, a vítima, mesmo após sofrer agressão, tende a aceitar pedidos de desculpas e retomar o relacionamento, motivada por vínculos emocionais profundos e, muitas vezes, por medo ou falta de apoio.
Para a psicóloga Ana Maria Negreiros, a forma mais eficaz de reduzir os casos de violência doméstica está na base: a educação emocional. Segundo ela, esse é um tema que deve ser trabalhado pelos pais com seus filhos desde a adolescência, para formar indivíduos emocionalmente saudáveis e conscientes de seus próprios limites e dos outros.
Após a denúncia, muitas vítimas de violência doméstica se sentem perdidas, sem saber que caminho seguir ou onde buscar ajuda. Nesse contexto, o Núcleo de Atendimento a Vítimas de Crimes (NAVIT) atua como uma rede de acolhimento fundamental, oferecendo suporte para que as mulheres possam se restabelecer e reorganizar suas vidas.
“O NAVIT não ajuda apenas a vítima, mas também o núcleo familiar que esteve exposto a esse ambiente violento, especialmente no cuidado com a saúde mental”, destaca Nancy.
O núcleo oferece apoio psicológico e também orienta as vítimas na busca por suporte social, incluindo encaminhamentos para moradia, assistência financeira e outros recursos necessários para romper com o ciclo da violência.
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Reportagem escrita pelos acadêmicos do curso de Jornalismo da UniSatc, José Carlos Machado e Raissa Allein, sob a orientação do professor Filipe Gabriel.