Muito além do esporte, para o autônomo Daniel Arce, o Criciúma Esporte Clube teve, e tem uma grande relevância para o poder econômico de sua família. O gaúcho natural de Bagé, cidade localizada na fronteira com o Uruguai, mudou de estado há 25 anos junto de sua esposa e filhos em busca de uma nova vida. Já em Criciúma, Daniel iniciou seu trabalho dentro do Estádio Heriberto Hülse como vendedor das tradicionais batatas, trabalho que ficou pouco tempo, já que surgiu a oportunidade de a família receber o repasse de um ponto nos arredores do Majestoso.
Rapidamente Daniel embarcou na aventura e está há 20 anos conquistando seu espaço na venda de seus espetinhos. Arce até tem outro ponto na cidade, mas está presente em todos os jogos do Tigre neste ano, onde vende em média 500 espetinhos em jogos com maior expressão e na faixa de 70 espetinhos em jogos com o público menor. Sem nunca aumentar o preço de seus produtos, o autônomo acaba faturando seu lucro na quantidade vendida.
Além de ser o esporte mais praticado no mundo, o futebol é muito mais que uma modalidade esportiva, se tornou um mercado capaz de mover até mesmo a economia. Sócios dos clubes, alimentação, transporte e vestuário são alguns dos setores que o esporte movimenta.
Os números são visíveis ao redor do estádio e na economia informal
Entendendo a importância de obter números mais precisos sobre a expressiva influência do esporte, trazendo o futebol como maior referência na movimentação econômica para o país, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) realizou, a partir da consultoria “EY”, um estudo aprofundado sobre essa relação. O estudo apontou que o futebol movimenta um total de R$ 55 bilhões na economia do país, os números representam 0,75% do total do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro, com R$ 38 milhões de efeitos indiretos. No Brasil, em média 25,7 milhões de pessoas acompanham as partidas pela TV, o que gera milhões em direito de imagem, tanto para a comunicação quanto para os próprios clubes.
Esse movimento econômico também pode ser notado em Criciúma, onde o futebol não movimenta um só nicho. De acordo com o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Criciúma, Tiago Marangoni, aponta que no mínimo cinco setores caminham lado a lado ao lucro esportivo, entre eles a alimentação, estacionamentos rotativos, a rede hoteleira e o comércio com foco a artigos esportivos.
“No comercio em geral, quando o Criciúma E.C. está bem, as pessoas ficam mais felizes e tendem a consumir mais. Outra coisa legal é que no mundo dos negócios os fornecedores e clientes relacionam o time da cidade com a empresa, trazendo um vínculo legal e melhoria na parceria. Apesar de não obtermos números oficiais, sabemos da necessidade de aprofundar o assunto, já que é visível a influência do time Carvoeiro para a economia da cidade”, explica Marangoni.
Desde sua origem o Clube é ligado a economia
O economista e ex-presidente da ordem dos economistas de Santa Catarina, Richard Guinzani, conta que a importância do futebol está enraizado a cidade de Criciúma, é cultural e histórico já que as primeiras equipes organizadas de forma profissional em Criciúma, eram fomentadas por empresas e de grupos organizados do comércio. “Economicamente, a mobilização é de toda a região envolta ao esporte, sendo amadora ou profissional. Toda a economia é movimentada por essas iniciativas”, aponta o economista.
De acordo com o prefeito de Criciúma Clésio Salvaro, o Criciúma Esporte Clube é mais que orgulho à cidade, também é fonte de renda e investimento. Assim como deve ser lembrado por suas ações que trazem grande valor socialmente na região carbonífera, mudando assim a vida de muitos meninos e meninas. “O Criciúma não é, apenas uma das marcas mais valiosas da nossa cidade, mas do estado de Santa Catarina. O Criciúma é mais que um clube e tem grandes conquistas dentro e fora das quatro linhas. É um imenso orgulho ter um time do tamanho do Criciúma nos representando em todos os cantos do Brasil”, frisa Salvaro.
O futebol é o melhor produto do país, de acordo com Richard Guinzani, chegando a ser considerado uma cultura. O economista conta que, por haver tantos praticantes e diversos locais aos quais o futebol está presente, trazendo também as famosas resenhas pós jogo, o esporte forma uma corrente de consumo. “Consequentemente à essa cultura do futebol, podemos também observar que a economia também segue essa lógica, no sentido de que movimenta toda uma engrenagem para funcionamento desse esporte, seja ele na forma profissional seja de forma amadora. Esse fenômeno do futebol, é visto tanto aqui em nossa região quanto a nível nacional. Vemos isso sempre, nos estádios, nas esquinas, nas praças, porque é de simples prática e coletivo”, comenta.
O Impacto não se prende somente ao redor do estádio
Nem só de espetinhos vive o torcedor e não é somente ao redor do estádio que o efeito do futebol é notado na cidade. Pamela Francisco Casagrande, proprietária de dois restaurantes localizados no bairro Santa Bárbara, conta que o aumento de clientes em dias de jogos é grande, no pós-partida o movimento de seus restaurantes é intenso. “Mesmo com a distância do Estádio Heriberto Hülse os torcedores se vêm para fazer suas refeições. A influência do clube é bem visível, é algo muito positivo para nossos estabelecimentos”, observa Pamela.
Com times de fora chegando na cidade, naturalmente, torcedores visitantes também vêm para Criciúma. O reflexo pode ser visto no setor hoteleiro, que, além dos torcedores, recebe a equipe técnica e os próprios jogadores, que se hospedam ao menos 15 dias no mês e movimentam o setor.
O gerente geral de um dos hotéis da cidade, Marcio Wilson Kestering, detalha que há procura e hospedagem de torcedores visitantes, principalmente em jogos com maior expressão, como os confrontos com o Fluminense, Vasco e Grêmio. Ainda afirma que esse movimento envolto ao futebol é visível ao hotel, principalmente quando a hospedagem é usufruída por times que obtêm restrições em sua alimentação, o que traz um retorno financeiro maior, já que há uma dieta específica a ser seguida. “Quando são times maiores que tem um cardápio mais elaborado e precisam de mais apartamentos extras além do que é liberado pela CBF, é mais viável economicamente”, ressalta.
O clube é fonte, mas também é beneficiado
Além do ganho econômico circular por toda a cidade, também deve ser lembrado o ganho para o próprio clube que além de receber por direitos de imagem, patrocínios e parcerias, acaba ajudando a circulação de ambulantes que trabalham dentro do estádio, como por exemplo os bares que são terceirizados, gerando renda não só ao clube como aos proprietários.
“O clube recebe um valor fixo de aluguel e um percentual sobre a venda de bebidas. Desta forma não temos o número exato das vendas”, explica o diretor administrativo e financeiro do Criciúma Esporte Clube, Paulo César Bittencourt. O diretor ainda contou que os efeitos do lucro esportivo ainda estão presentes no ISS sobre a venda de ingressos, INSS sobre a renda dos jogos, movimentação de passagens aéreas e terrestres, impostos sobre publicidade e a movimentação econômica das rádios e TV’s que cobrem o dia a dia do clube.
Com uma média de 10 mil torcedores pôr jogos, o mestre em economia Ismael Cittadin explica que o número acaba impactando e influenciando a cidade. “Os efeitos vêm diretamente e indiretamente através de investimentos para a cidade que acabam ocorrendo por meio da notoriedade do clube nacionalmente. Por sua expressão Nacional, ele acaba levando o nome da cidade pelo Brasil, o que acaba levando o nome de seus patrocinadores e patrocínios de empresas locais que acabam ganhando notoriedade pelo país, o impacto é bem relevante”, finaliza Cittadin.
E se engana quem pensa que as tradicionais camisas são utilizadas somente ao redor dos seus estádios ou em dias de jogos. O uniforme, vem sendo usada não só como opção para os jogos, mas sim para o dia a dia. Os uniformes vêm sendo utilizados como estilo, como por exemplo a nova linha casual do Criciúma Esporte clube. Bermudas de passeio, camisas de algodão e roupas para caminhada e corrida são algumas das peças que vem ocupando seu lugar como conta a gerente da loja Tigre Maníacos, Aline Borges. “O futebol move muito. Vemos nítida pela procura, e as pessoas usando nosso material no dia a dia, não em somente para vir ao estádio”. Aline também associa o aumento das vendas a dias de jogo, já que os torcedores costumam visitar as lojas tanto antes, quanto depois buscando na maioria das vezes pelas camisetas, produto com maior venda na loja.
Majestoso é a segunda casa
O Tigre é muito maior do que se vê em campo. Influência a economia e é responsável pelo sustento de muitas famílias. Ao contar sua história, seu Daniel Arce, o vendedor de espetinhos, demonstra o quanto ama trabalhar em um ambiente totalmente envolto ao Criciúma (que na sua opinião influência a cidade como um todo) sua outra paixão além da própria cidade.
“Eu adoro, eu digo que não é trabalho, é um prazer. O Criciúma se tornou minha segunda pele, o estádio é nossa casa. A cidade respira o time, o Criciúma indo bem, a cidade vai bem. É uma corrente financeira do bem, já que os jogos movimentam não só o espetinho, mas o comércio ao redor”, conta agradecido.
Além dos espetinhos, o campo de vendedores ambulantes também está ligado ao redor do Majestoso. Com a venda de almofadas, mantas, cavalinhos, chapéus e até mesmo radinhos são alguns dos produtos encontrados e que tem suas vendas em alta a cada jogo. Assim como as linhas de postos de combustíveis a poucos metros do estádio e que obtêm as cores do Tigre nos dias de confrontos com o movimento intenso desde o início do dia.
A história de Daniel é só uma dentre diversas famílias que foram e continuam sendo beneficiadas economicamente através do futebol, que deixa de ser apenas lazer e se torna também fonte de renda. Seja como seu Arce com a venda de seus espetinhos, ou do empresário que tem seu estabelecimento há quilómetros do estádio e fatura com a movimentação dos jogos na cidade, não há limites para o efeito do ganho que o esporte traz tanto a cidade de Criciúma, quanto ao lar de cada um, ligado direto ou indiretamente ao clube Carvoeiro.