As mulheres são mais suscetíveis a desenvolverem transtornos mentais devido a fatores biológicos e sociais. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão é cerca de 1,5 vez mais comum entre mulheres do que entre homens.
De acordo com a psicóloga Tainá Colombo, aspectos hormonais e sociais tornam as mulheres mais sujeitas a desenvolver transtornos mentais. “Estudos demonstram que aspectos biológicos, como a oscilação hormonal, podem influenciar o humor e aumentar a vulnerabilidade a quadros como ansiedade e depressão. Mas não é só isso, o fator decisivo é a forma como a vida das mulheres são atravessadas por desigualdades sociais, violências e cobranças”, explica.
A falta de apoio pode agravar o sofrimento das mulheres, tornando ainda mais difícil lidar com um transtorno. “Quando uma mulher se sente sozinha, sem rede de apoio, o sofrimento se intensifica. O trabalho da psicoterapia, é justamente criar um espaço seguro onde a mulher possa existir sendo ela mesma, sem qualquer julgamento ou imposição de ideais”, afirma a psicóloga.
É difícil identificar que uma mulher está passando por dificuldade, mas existem alguns sinais para ficar atento e observar se ela precisa de ajuda. “Nem sempre o sofrimento aparece de forma explícita e imobilizante, visto que as mulheres são ensinadas a esconderem seu sofrimento para continuar sendo produtivas. Alterações no sono, mudanças de humor, isolamento social e indisposição são comportamentos que podem servir como sinal para questionar se está tudo bem com uma mulher próxima”, pontua Tainá.
A ideia de que a mulher não pode demonstrar fragilidade, ainda é uma crença presente na sociedade. “Acredito que toda mulher em algum momento da vida teve que lidar com o fardo de não demonstrar fragilidade diante de situações. No meu caso, acredito que foi quando eu senti que a fragilidade poderia me atrapalhar em lidar com homens que só pensam em si mesmos”, conta a estudante de nutrição, Gabriela Corrêa.
Saúde mental feminina depende de mudanças coletivas
Muitas vezes, as mulheres precisam lidar sozinhas com suas demandas, sem nenhum apoio, o que pode impactar diretamente na saúde mental. “Com a enorme sobrecarga, sem uma divisão justa de responsabilidades, é impossível dar conta de tudo. A frustração então aparece, junto da culpa constante e a sensação de nunca estar fazendo o suficiente em nenhum dos papéis. Isso mostra como a saúde mental das mulheres também depende de mudanças coletivas, e não apenas individuais”, destaca Tainá.
Existe uma pressão para que as mulheres deem conta de diversas situações e ainda sim se saiam bem em todas, no entanto, essa cobrança pode gerar diversos sintomas. “Conciliar múltiplos papéis, como cuidar da família, equilibrar a carreira e lidar com tarefas domésticas, pode levar ao estresse crônico. O estresse prolongado é um fator de risco conhecido para várias doenças mentais, incluindo a depressão e a ansiedade”, informa a psicóloga.
As cobranças sociais sobre como as mulheres devem agir, afetam não somente a autoestima, mas também a saúde mental. “A pressão estética pode gerar baixa autoestima, transtornos alimentares, ansiedade e uma relação de hostilidade com o próprio corpo. É importante lembrar que essa cobrança não nasce na mulher, ela é produzida socialmente, e desconstruí-la é parte essencial do cuidado com a saúde mental”, esclarece Tainá.
Para Gabriela, lidar com a opinião de outras pessoas pode ser difícil, gerando autocobrança e baixa autoestima. “As pessoas falam seja boa naquela coisa, mas também não esqueça dessa outra coisa, o que é complicado. Qualquer comentário direcionado a minha aparência sempre gera um gatilho muito grande, aquilo fica na minha cabeça por vários dias e preciso lidar com a autocobrança excessiva”, relata.
