Criciúma já registrou, apenas neste ano, mais de 100 casos de violações dos direitos humanos contra mulheres. Aproximadamente 90% das pessoas atendidas nos núcleos de acolhimento da cidade são mulheres vítimas de violência doméstica.

A violência de gênero é uma realidade que atinge diversas famílias no município, e as vítimas frequentemente enfrentam a ausência de espaços seguros e estruturados para garantir sua proteção e o resgate de seus direitos.

Em 2020, o Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC) criou, em Florianópolis, o Núcleo de Atendimento a Vítimas de Crimes (Navit), com o objetivo de oferecer apoio humanizado a vítimas de crimes graves. Essa iniciativa ganhou força com a criação do Navit Sul, lançado em 2023 e instalado oficialmente em Criciúma no ano seguinte. O núcleo passou a atender as comarcas das regiões da Amrec e da Amesc.

À frente da unidade, o promotor de Justiça Samuel Dal Farra Naspolini explica a missão do projeto e seus primeiros resultados.

“A missão do núcleo é promover os direitos das vítimas de crimes violentos, historicamente negligenciadas pelo sistema judicial. Nosso papel é acolher essas pessoas e, em parceria com outras instituições, buscar o resgate dos direitos violados”, destaca o promotor.

Embora coordenado pelo MP, o Navit Sul atua em rede com órgãos públicos e entidades civis, funcionando como elo entre as vítimas e os serviços disponíveis.

“O Ministério Público não pode oferecer diretamente todos os serviços necessários, mas, com a articulação junto a outras entidades, conseguimos viabilizar o acesso a benefícios e atendimentos que, sozinhas, as vítimas não alcançariam”, completa Naspolini.

Desde sua implantação oficial, o núcleo já realizou cerca de 80 atendimentos. Uma das estratégias adotadas é a busca ativa, na qual a equipe identifica vítimas durante audiências e oferece orientação antes mesmo da formalização do atendimento.

Segundo o promotor, o principal avanço até agora tem sido a construção de parcerias com instituições como a OAB, prefeituras, igrejas e organizações sociais. Essa rede de apoio é considerada essencial para a consolidação do projeto.

O atendimento do Navit Sul ocorre presencialmente no Fórum de Criciúma, além de estar disponível por telefone, WhatsApp e e-mail — o que amplia o alcance e facilita o contato com as vítimas.

Criciúma discute criação de casa abrigo para mulheres em situação de violência

Com o aumento das denúncias e a urgência de garantir acolhimento seguro a mulheres em situação de risco, Criciúma avança na criação de uma casa abrigo especializada. Atualmente, muitas vítimas são encaminhadas para hotéis — uma solução temporária que apresenta falhas, como falta de privacidade, segurança precária e ausência de acompanhamento especializado.

Em reunião recente sobre o tema, a vereadora Giovana Mondardo, defensora da causa, ressaltou a necessidade de um espaço estruturado e regionalizado para acolher essas mulheres.

“Precisamos de uma Casa da Mulher Brasileira ou uma casa abrigo regional que ofereça acolhimento digno. As denúncias têm aumentado substancialmente nos municípios da região, e é urgente transformar a cultura que sustenta e perpetua essas violências”, declarou a parlamentar.

A secretária municipal de Assistência Social, Dudi Sonego, também destacou a urgência da iniciativa.

“Essa é uma necessidade regional. Muitas vezes, outros municípios da Amrec também enfrentam dificuldades e recorrem a hotéis, o que não é adequado. Nossa equipe do Creas é muito dedicada, mas com uma casa abrigo estruturada, poderíamos oferecer um atendimento mais humanizado. Essa proposta pode interessar a toda a região”, afirmou.

A proposta da casa abrigo representa um avanço na política de proteção às mulheres e busca transformar o acolhimento em uma experiência de reconstrução da autonomia, longe do ciclo de violência.

Reportagem escrita pelas acadêmicas do curso de Jornalismo da UniSatc, Larissa Lourenço e Natália Scremim, sob a orientação do professor Filipe Gabriel.