Seja por uma questão de propósito ou apenas por necessidade, o ato de empreender e a busca pelo próprio negócio, estão cada vez mais presentes entre os jovens na atualidade. Seguindo neste caminho, atreladas com a capacidade criativa, algumas startups presentes em Santa Catarina apostam na inovação e na criação de negócios que ajudam a contribuir com um mundo melhor.
Segundo o coordenador e diretor de Operações no Cocreation Lab/TXM Methods,Tiago Mattozo, a principal vantagem que marca os jovens no processo de empreender é a mente fresca e as ousadias durante os projetos.
“Eu vejo que essas novas gerações têm isso muito forte com o propósito de trazer suas contribuições para as pessoas e para o mundo. Sendo a razão que as move a criar o próprio negócio segundo suas paixões, seus valores e suas intenções. Desse modo, resulta no aumento atual de jovens empreendedores”, ressalta.
Com base nos dados divulgados pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), atualmente, jovens de até 24 anos já representam em torno de 1,9 milhões de empreendedores. Sendo 14% deles donos de pequenos negócios na região Sul do Brasil.
Ainda, segundo uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Empresas e Vendas Diretas (ABVD), desde o início de 2020, os jovens brasileiros com idade entre 18 e 29 anos representam 48,1% dos empreendedores independentes do país.
Empreendedorismo social
O Projeto “Ser Empreendedor dos Sonhos” desenvolvido pela fundação Beneficente ABADEUS tem como objetivo central elevar o desenvolvimento da cultura empreendedora em jovens das comunidades de Criciúma. São trabalhadas as áreas de criação de ideias de negócios e projetos para a resolução de problemas dos seus cotidianos.
Por meio de uma parceria que surgiu dentro do projeto, Quelvem Moraes, estudante de 14 anos obteve a oportunidade de estagiar na startup Soulmed incubada no Centro Tecnológico Satc (CT-Satc), dando seus primeiros passos para a inovação.
Além disso, o jovem foi destaque na edição de 2022 no Startup Weekend em Criciúma ,no qual a equipe ficou entre as 10 melhores ideias de negócio criadas dentro das 56 horas do evento.
Esses objetivos, alinhados ao empreendedorismo social, fizeram com que Laila Ribeiro criasse a startup Fazenda Bioma. O projeto une os meios tecnológicos com inovação, produzindo alimentos mais saudáveis, reduzindo impactos na cadeia alimentar.
“Nossa finalidade era criar um investimento que trouxesse um impacto social, algo que pudesse mudar a realidade da forma que conhecemos, as coisas do modo que são hoje”, enfatiza.
Conforme Laila, este assunto está sendo esquecido, e retomar essa questão é importante. Então, como a cadeia alimentar gera 30% de alimentos desperdiçados, o projeto diminui a poluição que é gerada e, principalmente, o desperdício causado aos alimentos consumidos. Como resultado, no desenvolvimento do nosso projeto em um pequeno espaço urbano é possível produzir alimentos de altíssima qualidade, focado em uma produção limpa e sustentável.
“Não sabemos de onde vem os alimentos ou como são feitos. Porém, nessa conexão entre as pessoas conseguimos aproximá-las do que elas estão consumindo de uma forma transparente. Sendo assim, elas conseguem enxergar o produto que elas vão consumir sendo produzidos”, destaca a empreendedora.
Seja nas práticas agrícolas para beneficiar a colheita e produção, ou até mesmo nas áreas de saúde, garantindo cuidados com as pessoas que mais precisam, o pensamento empreendedor pode estar presente em inimagináveis setores.
É o caso do aplicativo que capacita cuidadores e familiares para atendimentos de pacientes acamados. Esta preocupação com a saúde, junto com o objetivo de ajudar as famílias, fez com que a enfermeira e empreendedora, Larissa Alves, criasse o aplicativo SOS Home Care.
O projeto através das estratégias pensadas tem a finalidade de dar o suporte de um enfermeiro para dúvidas e situações que podem ocorrer no domicílio. Assim, as famílias e cuidadores terão conhecimento para cuidar de um paciente acamado com qualidade e com busca rápida por cuidadores quando assim necessitarem.
“Os benefícios para a sociedade são o treinamento e a adaptação dentro do domicílio para pacientes e pessoas que necessitam de cuidados de terceiros. Torna-se uma capacitação gratuita para os cuidadores exercerem suas atividades, porque hoje não existe essa capacitação formalizada. Desse modo, fazemos de acordo com o projeto de lei para criação da profissão cuidador”, pondera a enfermeira.
Tecnologia, a líder no processo da inovação
Devido a evolução dos recursos, a tecnologia se torna um elemento de apoio e de facilidade para o mundo dos negócios, sendo a líder no processo de empreendimento. De acordo com o diretor regional da Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE), Rafael Rosso Fernandes, estar conectado é, praticamente, uma obrigação do empreendedor.
“Hoje, tudo está conectado e, para cada item conectado, existe uma oportunidade para um jovem empreendedor. Seja no desenvolvimento de melhorias, logística, conexão e assim por diante. O mercado está cada vez mais competitivo, cada vez mais vemos ofertas de empresas e serviços. A tecnologia alinhada à inovação ajuda o empreendedor a compreender melhor o mercado, alinhar o trabalho e seu planejamento”, frisa.
Através da finalidade de empreender na fomentação da tecnologia e introduzir novas formas para pessoas com produtos e serviços de empresas, o designer Gilberto Martini apostou no metaverso, como uma forma de empreendimento na sua startup conhecida como Invirtuoos. A plataforma é um espaço coletivo e virtual compartilhado, ou seja, uma rede de mundos virtuais para replicar a realidade.
O gosto e contato com a realidade virtual surgiu por meio de um intercâmbio realizado por Martini nos Estados Unidos. Durante a viagem, ele conseguiu perceber que era nesta área que queria trabalhar, pesquisar e se especializar como uma forma de empreendimento.
“O metaverso na sociedade ainda está em especulação. É algo novo em teoria, e vai potencializar ações do dia a dia, trazer pessoas para mais perto e não afastá-las. No conforto da sua casa você vai interagir com outras pessoas, não só na tela isso vai otimizar processos e juntar pessoas de uma forma mais valiosa”, explica.
Dificuldades no processo de empreender
O processo de empreender não é fácil e pode ser um caminho cheio de desafios. A vontade de desistir se faz presente mais de uma vez durante o processo, principalmente no início.
Essa vontade de querer desistir durante as etapas de criação do projeto, foi um dos sentimentos que a empreendedora Laila, passou durante a criação do seu projeto Fazenda Biomas. “Já pensamos em desistir algumas vezes. Mas, o senso de propósito precisa ser maior, paramos e pensamos no que queremos atingir e toda a caminhada que já tínhamos completado”, relembra.
Já para a empreendedora Larissa, durante a criação do projeto SOS Home Care, o pensamento de desistência veio durante o projeto, principalmente, devido a sua gravidez durante todo planejamento do trabalho.
“Pensei em desistir várias vezes, iniciei o projeto gestante, ganhei meu bebê no início do projeto. Então, fiz todo o projeto com meu bebezinho no colo, participando comigo de cada plano de negócios e desenvolvimento da empresa, e o cansaço gera esgotamento. Quando a gente para e coloca na planilha tudo e vê que o retorno ainda vai levar anos, o ponto de equilíbrio vai demorar, isso leva tempo e gera um desgaste”, explica.
Durante a criação dos próprios negócios, a vida do empreendedor costuma ser difícil, por questões financeiras ou até por falta de pontos de vistas. “Mas, tem uma intuição que costuma guiar a gente para não desistir por ser algo que gosta, confiança em nosso próprio potencial durante nosso trabalho”, estabelece o criador do projeto Invirtuoos, Gilberto Martini.
Como começar o próprio negócio?
Para o diretor de operações no Cocreation Lab, Tiago Mattozo, acima de tudo o jovem precisa procurar ajuda para ver se sua ideia faz sentido e, ainda, se será possível realizar a criação de um negócio com a ideia proposta.
“Precisa haver um problema, uma necessidade para que as pessoas, realmente, demonstrem interesse na solução que precisa resolver esse problema de maneira conveniente. Com uma forma econômica viável, sustentável e que exista um mercado grande para manter seu negócio sustentável durante os anos”, completa.
Ainda, segundo Mattozo, os programas de apoio, incentivo e recursos financeiros para criar o próprio negócio que estão surgindo, fazem com que o período atual se torne o melhor momento para empreender no Brasil. Mas, mesmo assim, empreender é tomar riscos, ir para um cenário repleto de incertezas e ter que obter êxito nesse cenário.
“Para realizar um bom investimento no seu próprio negócio acredito que seja buscar apoio em conhecimento, mentoria, capacitação ou recurso financeiro. Procurar editais de fomento, tentar captar recursos em entidades públicas e privadas de incentivo e de financiamento. Porém, a principal e mais essencial dica é sempre manter a dedicação durante todo projeto para realização de um empreendedorismo de sucesso”, conclui.
O diretor da Associação Catarinense de Tecnologia (Acate), Rafael Rosso Fernandes, estabelece que as possibilidades em torno do empreendedorismo e a criatividade são infinitas para se começar um próprio negócio no mercado econômico atual. Os recentes avanços, principalmente, em torno dos negócios digitais abrem diversas portas para quem quer começar a empreender.
Rosso ainda afirma que alguns exemplos de empreendimento que unem esse pensamento tecnológico são: os delivery de comida, e-commerce, desenvolvimento de software ou games e, até mesmo clubes de assinaturas e conteúdos digitais. “Se você tem um e-commerce, por exemplo, com alguns cliques e utilizando a ferramenta certa, você consegue implementar novas formas de pagamentos ou diferentes formas de envio. São facilidades para o empreendedor se tornar mais competitivo com a criação do seu negócio”, conclui.
Matéria produzida por Patrick Stupp e Louise Muller