Setores ligados ao agronegócio brasileiro estão acompanhando com preocupação quanto a guerra da Rússia contra a Ucrânia, no leste Europeu, pode afetar o fornecimento de fertilizantes. O Brasil, hoje, importa 85% dos produtos, sendo que 23% vêm diretamente da Rússia. O medo da crise dos fertilizantes se agravar e faltar produtos para o início da próxima safra está movimentando o Governo Brasileiro. Essa situação e a busca por soluções é algo que já faz parte das pesquisas da equipe do Centro Tecnológico Satc (CTSatc), em Criciúma.
Há pelo menos três anos, os pesquisadores se dedicam a olhar para o cenário em duas frentes. A primeira é buscando o entendimento sobre novas matérias-primas que podem ser utilizadas para a produção do fertilizante. “Estudamos a utilização de produtos que resultem em fertilizantes de baixo custo. Um micronutriente que poderá ser usado é o enxofre, resíduo derivado do processamento do carvão que tem potencial para aplicação”, pondera o engenheiro químico e pesquisador do CTSatc, Thiago Fernandes de Aquino.
A relação do Centro Tecnológico com o segmento do carvão mineral é fundamental para o desenvolvimento das pesquisas. Foi observando a cadeia produtiva do setor que os pesquisadores passaram a olhar para resíduos que antes eram desprezados e que podem se tornar um novo item negociável.
“Essas pesquisas fazem parte do processo de transição energética justa que está em desenvolvimento. Procuramos, cada vez mais, diversificar o uso do carvão mineral, agregando novas tecnologias”, destaca o engenheiro de minas e vice-presidente de pesquisa e inovação tecnológica da Associação Brasileira do Carvão Mineral, Márcio Zanuz.
A segunda frente de trabalho da equipe de pesquisadores é ampliar a disponibilidade de novos tipos de produtos com alta tecnologia agregada. Os estudos desenvolvidos em Criciúma envolvem fertilizantes de liberação lenta.
“Esse processo é algo inovador, agregando valor ao setor agrícola, incorporando novas tecnologias e aumentando a eficiência produtiva”, comenta a engenheira ambiental e sanitária Beatriz Bonetti. Nos estudos que estão em andamento, o objetivo dos pesquisadores é obter um produto que utilize componentes químicos disponíveis e que resultem num fertilizante rentável na sua aplicação e com um preço competitivo.
Além da equipe técnica, com profissionais multidisciplinares, que unem conhecimentos em torno do mesmo tema, a Satc conta com laboratórios de ponta. No LabSatc já são desenvolvidas análises de macro e micronutrientes que servem de apoio importante em estudos e pesquisas com fertilizantes. “Já realizamos algumas análises e estamos ampliando nosso portfólio para atender a outras demandas”, informa Aquino.
Pesquisas fortalecem o Agro 4.0
Projetar os avanços de um segmento também faz parte do trabalho dos pesquisadores. A equipe do CTSatc sabe que é necessário observar o mercado e olhar adiante. Para isso, a pesquisa que está em fase inicial e que conta com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (FAPESC), visa desenvolver fertilizante e aplicar tecnologias com conceito Agro 4.0.
“Os projetos envolvem a automatização de processos para otimizar a utilização de insumos aplicados na agricultura”, afirma o engenheiro agrônomo e pesquisador do CTSatc, Daniel Pezente.
O conceito Agro 4.0 envolve o desenvolvimento tecnológico que contribui para aumento na produção, com redução de custos. Além disso, serve para diminuir os impactos ambientais e proporcionar mais qualidade e segurança no trabalho dos profissionais que atuam na agricultura.
Parcerias fomentam novos estudos com fertilizantes
Com a crise dos fertilizantes que pauta discussões, o Governo Federal lançou o Plano Nacional de Fertilizantes (PNF). A proposta consiste em reduzir a dependência do produto importado, que representa 85% do total que é consumido no país.
O Brasil é o quarto maior consumidor de fertilizantes do mundo, atrás de China, Índia e Estados Unidos. Somente em 2021 foram 40 milhões de toneladas aplicadas. Com o Plano, o Governo quer fomentar os estudos, abrindo novas frentes de produção até 2050 e reduzir a importação para 40% do total consumido. “Atuamos buscando recursos e parcerias para desenvolver novos projetos, seja na indústria ou no poder público. Essas parcerias ajudam a ampliar o leque de pesquisas”, ressalta o biólogo Mauro Zavarize.
Quem já se alia ao CTSatc nos estudos é a Cooperativa Agroindustrial Cooperja e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). “Também estamos conversando com grandes fornecedores de fertilizantes”, explica Aquino.