Autocobrança, um sentimento constante de insatisfação e angústia com os próprios resultados. Algo que pode ser comum na rotina de estudantes, vestibulandos e até mesmo no trabalho, que pode ser extremamente incomodo, e podendo atrapalhar uma rotina já estabelecida. A busca incessante pela perfeição em atividades exercidas pode ser mais nociva do que trazer benefícios, isso inclui o esgotamento psicológico, procrastinação, aumento de crises de ansiedade, assim como a depressão.  

O ato de se cobrar demais pode até passar despercebido para quem ainda não está acostumado com o termo, mas não se engane, atos como crises de ansiedade decorrente a não conseguir realizar algum ato, falta de apetite, insônia, procrastinação e esgotamento psicológico podem ser fatores preocupantes como explica a psicóloga Camila Goulart. “A autocobrança passa a ser nociva quando ‘atrapalha mais que ajuda’. Por exemplo, repete várias vezes algo por achar que não está bom suficiente, com isso procrastina outras atividades ou mesmo perde prazos ou deixa de fazer atividades de lazer por pensar que não merece”, destaca Camila. 

Estudantes podem ser os mais afetados  

Estudando medicina, Ana Luiza Aguilar conta que percebeu o ato de se cobrar demais ainda na pandemia, quando passou a frequentar as aulas online. A acadêmica conta que em um dia normal sua professora passou uma atividade com um curto prazo, mas que não foi vista. Logo após, os pensamentos que não estava se dedicando o suficiente tomaram conta de seu dia. “Eu me perguntava ‘como que não vi isso? Vale 100 pontos!’. Depois descobri junto com meus colegas que o trabalho não era para nossa turma e que não era minha culpa não saber. Mas foi a partir desse momento que notei a cobrança exagerada que eu tinha sobre mim mesma e depois comecei a perceber que ela estava sempre ali, as vezes mais e as vezes menos”, expõe a estudante. 

Em relação a aprendizagem, Camila conta que a cobrança excessiva pode atrapalhar os estudos e prazos pois nessa área há a espécie de um “cronômetro” para estudar. Por isso, para pessoas que se autocobram demais, esse sentimento é uma bomba relógio, o que acarreta um gatilho para quem já possui ou não ansiedade. O corpo possui limites físicos e psicológicos que quando ultrapassados podem ter sintomas adversos, podendo ser o esgotamento mental um deles. “Pensamentos como, ‘eu preciso aprender, eu preciso dar conta, eu preciso fazer isso rápido’ são nocivos. E muitas vezes, o estudante acaba ficando tão ansioso com isso, que a própria ansiedade impede que eles tenham um bom desempenho nos estudos”, pontua a psicóloga. 

Efeitos da autocobrança podem variar de acordo com cada individuo 

As consequências de uma autocobrança exagerada são associadas geralmente a sintomas de ansiedade, sentimento de incapacidade, baixo autoestima, desvalor por não alcançar expectativas de si mesmo ou pais e professores, como se toda hora o estudante estivesse em estado de alerta. Algo bem recorrente a acadêmica Ana Luiza que constantemente sentia-se pressionada por seus professores.  

“Já ouvi um falar que deveríamos dedicar 5h diárias para cada matéria, que estudamos errado e não damos atenção suficiente para as aulas ministradas. E isso traz um sentimento de cansaço gigante. Fico me cobrando para atingir as metas estipuladas pelos professores e isso consome muita energia, quando chega o final do ano me sinto esgotada. Quando me convenço que está tudo bem sair uma noite acabo sempre repassando a matéria mentalmente e não aproveitando o momento. É sempre difícil aproveitar 100% do tempo de lazer”, comenta a estudante.  

Maneiras de diminuir e fugir do sentimento de se cobrar demais  

Para tratar ou inibir os efeitos da autocobrança é necessário reorganizar a rotina, tanto em relação aos estudos, quanto trabalho ou demais atividades em que notasse tal comportamento excessivo. Priorizar etapas e sua ordem de necessidade a serem realizadas, realmente deixando “o que é para depois” ser feito em seu real horário e ordem. A psicóloga conta que quando recebe demanda em clínica, é comum sentar-se junto com o adolescente e criar um novo cronograma, incluindo nele não só estudos, mas momentos de lazer e descanso de acordo com o perfil da pessoa e suas necessidades. 

“Em geral, indico encontrar um equilíbrio, ver onde é sua dificuldade e onde realmente precisa melhorar, e o que pode ficar mediano. Não precisamos ser perfeitos em tudo, na verdade, ninguém é perfeito em tudo, e precisa internalizar esse pensamento em si e focar naquilo que realmente é necessário para o seu desenvolvimento”, finaliza Camila. 

Qual o momento em que deve se procurar ajuda psicológica  

Assim que os pensamentos de autocobrança começam a interferir a saúde mental, é o momento certo de buscar tratamento de acordo com a psicóloga. “ O tratamento inicia após levantar os sintomas e identificar onde é mais prejudicado na vida da pessoa e se torna focado onde mais afeta em atividades do seu dia a dia”, explica Camila. 

Foto: Leonardo Evaristo