Uma pesquisa realizada pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) aponta que o Brasil é o país que mais mata pessoas trans pelo 16° ano consecutivo. Dados indicam que um dos principais motivos é a negligência das autoridades estaduais.

Com um total de 145 assassinatos em 2024, o maior percentual de vítimas tem entre 18 e 35 anos de idade. A maioria são negros, pobres e moradores de periferia, sendo 90% mulheres.

Os estados onde mais ocorrem o crime de transfobia, são Ceará, Pernambuco, Bahia e São Paulo. A maioria dos casos se concentram em regiões metropolitanas.

A presidenta da Antra, Bruna Benevides, comentou durante a pesquisa da própria instituição que “mesmo com as adversidades, o Brasil ainda conta com instituições que reconhecem e defendem a dignidade e os direitos das pessoas trans”.

Mesmo após o enquadramento da homofobia e da transfobia, como crimes raciais pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em 2019, não há registros oficiais sobre o número de casos destes crimes no país.

De acordo com o Núcleo de Atendimento à Vítimas de Violência (Navit), a inexistência destes dados se dá pelo registro inadequado deste crime. Principalmente, por muitos boletins de ocorrência (BO) constarem como agressões, físicas ou psicológicas.

Transfobia em Santa Catarina

O Navit, atua no auxílio às pessoas vítimas de agressões, sendo voltado a ajudar as mulheres. “Trabalhamos com os diversos tipos de violência, sejam eles de forma psicológica ou física. Nós oferecemos suporte jurídico e emocional às vítimas”, explicou o residente jurídico do Navit de Florianópolis, Marcus Vinícius da Silva.

No estado, também não há um levantamento do número de casos de transfobia. “Há um projeto em andamento para que seja feito esta análise. Ainda não temos os dados precisos, mas em breve teremos”, comentou Silva.

Algumas cidades catarinenses, como Criciúma, não possuem um conselho municipal voltado à proteção dos direitos das pessoas transexuais.

Esta falta de suporte, evidencia, segundo a Antra, a presença de um dos principais motivos da perpetuação do Brasil como o país que mais mata pessoas trans no mundo.

Violência, preconceito e falta de conhecimento

Casos como o da estudante de animação da UFSC, Charlie Júpiter Toschi, costumam ser pouco validados. “O caso mais marcante foi quando eu frequentava um Centros de Atenção Psicossociais (CAPS) da minha cidade. Onde uma agente de saúde se recusava a me tratar pelo meu nome, por achar que tudo se tratava de algum transtorno psiquiátrico”, relatou.

Charlie, que se identifica como uma pessoa não binária, afirma que durante sua descoberta, sempre buscou conversar com profissionais da psicologia. “Era uma pessoa que deveria estar cuidando da minha saúde. Porém fez com que me sentisse incompreendida”, confidenciou.

Por conta da normalização destes tipos de violência, as vítimas não esperam a compreensão vinda de profissionais da saúde ou autoridades. “Eu acho que mesmo que tivesse ido na polícia, eles iriam me tratar do mesmo jeito. Senti que não tinha nada que pudesse fazer”, finalizou Charlie.

Reportagem escrita pelos acadêmicos do curso de Jornalismo da UniSatc, Leonardo de Souza e Sara Gekas, sob a orientação do professor Filipe Gabriel.