Foto: Museu do Tigre

Os heróis carvoeiros reinaram antes mesmo do título de 1991 do Criciúma Esporte Clube pela Copa do Brasil. Para ser mais exato, 44 anos antes da conquista. Em 13 de maio de 1947. Naquele ano, nascia algo que iria mover toda a região Sul Catarinense: Comerciário Esporte Clube, o pai do Tigre.

E se engana quem acha que essa história foi esquecida, afinal, as raízes são as mais difíceis de arrancar. Atualmente, em 2024, o time carvoeiro é uma das maiores paixões de quem é da região. Um amor cultivado desde a infância e levado para o resto da vida. Esse é o impacto do Criciúma. Esse é o Criciúma.

Ele começou tímido, debaixo de uma figueira da Praça Nereu Ramos, no centro da cidade. Naquela época, era apenas um sonho de moleques que queriam se reunir para jogar uma pelada. Hoje? O único time catarinense na elite do futebol brasileiro.

E como um significado de resiliência, o clube foi se adaptando e mudando. Em 1978, o nome oficial mudou. O que era então representado por um bairro da cidade – Comerciário – passou a representar o município como um todo. Sendo anunciado oficialmente como Criciúma Esporte Clube. Seis anos depois, em 1984, as cores azul e branco do uniforme passaram a ser amarelo, branco e preto. Tudo isso representa as engrenagens que moviam a cidade na época: o preto, dando significado ao carvão. O amarelo, trazendo as riquezas da região carbonífera. Já o branco, é um aliado estético e também muito comum nos uniformes.

750 TIGRES COMIGO

Se alguns são apaixonados por colecionar fotos ou memórias, outros são viciados em artigos históricos. Você já imaginou ter mais de 700 camisas do seu time do coração? Pro torcedor carvoeiro, isso é moleza. O empresário e colecionador, Fernando Geremias, tem um verdadeiro museu, guardando todos esses números de camisetas e histórias.

Navegando desde o Comerciário, época de ouro do clube, até os dias atuais, são mais de 750 peças do time e milhares de itens tricolor. Uma paixão, que começou com o Fernando criança. “Minha alegria era convidar os amigos e passar o dia, tarde e noite jogando futebol. Com o passar do tempo, na década de 90 eu conheci o Criciúma, quando vinha pra casa da minha madrinha. Nós íamos aos jogos do tigre e aquilo ficou marcado para sempre na minha memória”, relembrou Geremias.

E não foi só ele quem cresceu, o fogo da paixão e a admiração pelo clube também. Todo esse trabalho foi fruto de uma pesquisa aprofundada e muito suor para resgatar as peças. A vontade em ter os mantos do time começou ainda nos anos 2000. Não só com o que era atualidade na época, mas também com as relíquias do passado.

“As camisas do Criciúma são únicas e eu sempre fui apaixonado pela preta, amarela e branca. A partir do lançamento da camisa de 2010, aquela espetacular, eu falei: agora eu sou colecionador de camisetas do Criciúma. E eu não só comprei de lá pra frente, mas também pra trás”, explicou Fernando.

PAIXÃO PELOS CARVOEIROS

E para conhecer a história desse gigante, Fernando foi questionando pessoas que conheciam ela, seja por aqueles que estavam com camisas nas ruas, o famoso boca a boca, até aqueles que divulgavam elas na internet. Descobriu as cores originais do time (azul e branco), o nome Comerciário, as estrelas que jogaram… e não parou mais. Aliás, essa sede pela água do carvão, resultou em uma conquista pra lá de especial.

“A camisa do Comerciário, que é a mais antiga que eu tenho, eu ganhei da filha do fundador. Ela mora lá em Campina Grande, na Paraíba, e mandou pra mim sem cobrar nada”, contou. E não é qualquer camisa não. Estamos falando daquela que esteve com Carlitos Rovaris, o autor do primeiro gol da história do clube, quando ainda era azulzinho. São lembranças de pessoas que são os verdadeiros heróis do Criciúma. Personalidades importantes de uma sociedade, uma Criciúma que tinha 10 mil habitantes na época.

Um estoque com diversos anos envolvidos e que carrega grandes nomes dessa história. Para fazer isso? Realmente só um verdadeiro louco apaixonado. “O time faz parte da família. Às vezes a gente deixa muita coisa de lado para estar atrás do Criciúma. Quando a gente vai ao estádio, não importa a religião, partido político, se pensa assim ou de outro jeito. A gente sabe que está todo mundo gritando por uma única coisa: o Criciúma”, ressaltou.

Ele que se considera uma pessoa dura, que não chora com as dificuldades da vida. Mas quando chega no estádio e vê a torcida cantando em uma só voz, os jogadores entregando o seu melhor em campo: “é emocionante”. Ah o Criciúma? O Criciúma é isso. Nem precisa ser apaixonado por futebol, quem
mora aqui, tem o tricolor na veia. E não para por aí.

DE PAI PARA FILHO E SEMPRE SERÁ!

Filho de carvoeiro, carvoeirinho é. Ou melhor, filha. Que o Criciúma alimenta corações, nós já sabemos. Inclusive, ele está no sangue. Sim, NO SANGUE. Maria Alice Cavaler, jornalista, herdou essa paixão do pai, Aderbal de Campos. Agora, ela acompanha de perto o time tricolor.

E são personagens como esses que ecoam o nome Criciúma. Não só no estádio, mas em todos os meios possíveis.

“E A TORCIDA VAI A LOOOUCURA

Todos os dias o clube pauta os veículos de comunicação, principalmente o rádio. Líderes de audiência nas transmissões do tigre, os jornalistas Mateus Mastella e Janniter de Cordes, já passaram por diversas experiências com o time carvoeiro e a torcida tricolor.

A emoção de estar envolvido com o Criciúma é algo essencial na hora de transmitir um sentimento para o ouvinte. No rádio, isso é ainda mais intenso. Mastella conta um pouco de como é essa sensação e também fala sobre uma das armas secretas do clube: a torcida.

Áudio Mateus Mastela

Para Janniter de Cordes, que viaja o Brasil inteiro para transmitir as partidas, o fator campo faz muita diferença. Ele conta um pouco de como é transmitir os jogos fora de casa e estar longe da euforia criciumense.

Áudio Janiter Decordes

Os dois têm algo em comum: a paixão pelo Tigre. Eles lembram de momentos dos jogos em que a emoção é tanta, que até na hora de transmitir um lance, a imparcialidade do jornalismo se anula e o coração de torcedor fala mais alto.

Áudio Mateus Mastela e Janiter Decordes

E tudo isso só é possível graças ao torcedor, aquele que senta na arquibancada e toma banho de cerveja pelo time. E faz isso com muita garra e gosto. Mas também, aquele que apoia com um aporte financeiro.

‘SOU CARVOEIRO SIM SENHOR’

E para um clube se manter, vai além do apito inicial e final. O sócio torcedor é um dos principais apoiadores para que essa chama continue acesa. O do Criciúma? Esteve junto em bons e maus resultados. Atravessou o rebaixamento para a Série C do Campeonato Brasileiro, pandemia… e por aí vai.

Em 2023, com o número de sócios subindo e o clube com uma das melhores campanhas, a arrecadação foi de R$ 15.977.814,00. “E não é só isso, pois toda a economia em torno do clube muda. Principalmente com esse espírito ao redor do Estádio Heriberto Hülse. A cadeia econômica da cidade cresce também com esse número de sócios”, explicou o superintendente do Criciúma, Paulo Bitencourt.

O gigante carvoeiro tem isso: a torcida. A engrenagem principal e que move todo o clube. É ela que solta o som ‘CRICIÚMA’ para o resto do mundo. “O Criciúma sobreviveu por conta da torcida, que levantou ele junto com a nova gestão. Enquanto nós estivermos juntos, o clube vai ser cada vez mais hegemônico em Santa Catarina. Ele está no trilho do crescimento para ser um dos grandes clubes e brilhar ainda mais no Brasil” ressaltou, com orgulho e emoção, o colecionador Fernando Geremias.

Texto, fotos e vídeos por: Luis Casagrande e João Pedro Savi