A trajetória da banda criciumense Ponto Zero reflete a busca pela identidade e o impacto da música na vida das pessoas. Com melodias envolventes e letras que exploram temas profundos e atuais, o grupo emergiu como uma das maiores revelações da cena musical catarinense nos últimos tempos. Sua ascensão demonstra não apenas o esforço coletivo, mas também o poder da música de conectar e inspirar.

Desde os primeiros passos, a banda fez questão de seguir uma abordagem sem grandes pretensões. Inscrevendo-se em concursos musicais com a intenção de, simplesmente, participar, o grupo nunca imaginou que sua jornada se tornaria um marco significativo na cena do rock nacional. Com um repertório inicial de poucas músicas, Ponto Zero se destacou entre dezenas de outras bandas e foi conquistando aos poucos a admiração de uma base crescente de fãs.

Entre ensaios e sonhos

O grupo musical iniciou após o Lucas Valcanaia sair do seu antigo grupo de rap. Por um tempo ele seguiu em sua carreira solo, com um projeto que visava lançar músicas que misturassem o trap com o rock. Em 2016, Davi Dagostin passou pelo seu caminho com uma guitarra e surgiu uma sintonia que formaria o ritmo ideal para uma formação musical. Nesse primeiro momento outros rapazes se juntam a eles, esse seriam Alan e Vaguinho, que ficariam com o baixo e com a bateria. Assim, começaram os primeiros rascunhos do que viria a ser a banda. Porém, ainda não era a melodia ideal. Passaram três anos, com vários acordes e vários membros diferentes passando pela formação do que seria a banda conhecida hoje. A atual formação conta, além do vocalista Valcanaia, com Luiz de Bem na guitarra, Guilherme Peruck no baixo e vocal e Mateus Porto na bateria. Todavia, alguns ritmos não perduram para sempre, e o baterista oficial está encerrando mais um capítulo da banda. Então, a partir de 2025 outro artista surgirá para anunciar uma nova formação do grupo.

De acordo com Peruck, apesar da banda ter passado por várias mudanças, cada uma das pessoas que passou por ela deixou a sua influência nas canções. “Cada integrante deixou um pouco de si e sua marca registrada. Cada integrante tem sua influência pessoal e bota um pouco disso nas músicas autorais, mas a banda que mais nos impulsiona com certeza é o Linkin Park”, destaca o baixista.

Em relação ao nome escolhido para ser gritado pelo público quando eles estiverem nos palcos, o responsável foi Valcanaia. “Como eu sempre curti rock e passei um tempo no rap e depois montei uma banda de rock de novo, é como se eu estivesse voltando ao meu ponto de partida, ao meu estágio zero, ao meu ponto zero, ao meu ponto inicial. E por isso Ponto Zero, como se eu estivesse voltando ao meu ponto zero da minha vida que sempre foi o rock”, explica.

O palco como seu espaço

Antes de ir em frente a um público para se apresentar, o grupo separa um momento para uma reunião, na qual eles conversam e se concentram, sempre buscando ficar juntos antes da adrenalina e da energia tomarem conta dos seus corpos na subida do palco. Em alguns casos existe um aquecimento e exercícios para voz, em outras situações eles fazem uma oração, pedindo luz, discernimento e força para executar a performance da melhor forma. “Mas a hora que a gente sobe no palco é como se o mundo todo desaparecesse e fosse só nós ali em cima. Mas ao mesmo tempo, as pessoas, elas fazem parte desse universo que se fecha ali. Então, não é que a gente se fecha pro público, mas é como se a gente não se importasse com o mundo ao redor quando a gente tá em cima do palco”, revela o vocalista.

Entre acordes e palavras: notas que contam histórias

“Questionamentos, conflitos internos, lutas do cotidiano e todo e qualquer sentimento que a alma possa gerar”, essas seriam as principais inspirações para Peruck nos seus momentos de processo criativo. Já para Valcanaia, a sua inspiração surge pela vida de fato. “Tudo que a gente pode sentir, tudo que eu posso sentir ou que eu sinto, todas as emoções, todos os conflitos, todos os questionamentos, as perguntas que eu faço para mim mesmo. Tudo que trata a partir do meu conhecimento a respeito da evolução do ser, em nos tornar pessoas melhores, em enxergar o mundo de uma forma melhor. E ao mesmo tempo, de revolta, de protestos, daquilo que eu enxergo que de fato é algo errado. Vamos dizer assim: do meu ponto de vista”. Em relação às suas letras terem um pouco de influência de outros artistas, a banda tem uma grande conexão com dois gêneros, o rock e o rap. Mas outros estilos como o hip-hop, o MPB e country não saem do seu radar.

O processo de criação se inicia com a procura de referências ou com o estruturamento da música. Em algumas situações, até a inteligência artificial entra em cena para mapear a canção. Após isso, as palavras começam a criar um sentido único. Assim, quando alguma ideia surge, seja uma frase ou um pensamento, todos anotam para compartilhar com o restante do grupo. “Eu sempre vou lapidando e usando, encaixando nas letras que de fato concordam com aquilo que eles me mandaram”, explica o vocalista. A partir disso, é o momento da produção. Assim, tudo o que foi montado é apresentado para o produtor musical, que traz uma nova visão para o trabalho apresentado. “A gente chega no estúdio com a música praticamente pronta e ela muda total”, comenta Valcanaia.

Atualmente são mais de 10 composições já criadas, com duas canções já gravadas e lançadas, que seriam “O que eu quis”, em 2022, e “Mestres”, em 2024. A banda também está em processo de gravação do primeiro EP, que contará com seis faixas gravadas, que devem chegar ao público ainda esse ano. Peruck revela que eles também possuem uma música para gravar no Elephant Office, um dos maiores estúdios da América Latina. Conforme o vocalista, a base principal das canções já preparadas para divulgação são os instrumentos. Para ele, as melodias conversam entre si nas faixas, porém o assunto é difícil mapear, visto que irá variar muito. “Eu sou uma pessoa que gosta de escrever sobre tudo, então vai ter músicas que eu vou falar sobre amor, vai ter músicas que eu vou falar sobre protesto, sobre questionamento interno, sobre religião, sobre fé e tudo mais”, revela.

A alma cultural e local em suas visões

Em busca de levar imagens que pudessem levar o nome da cidade em que cresceram para mais longe, o primeiro videoclipe da banda traz como cenário um dos pontos turísticos mais visitados de Criciúma, o Mirante Municipal Realdo Santos Guglielmi. Antes de gravar, os rapazes foram até o local para sentir se realmente era ali que deveria ser filmado, e a decisão foi tomada. “Gostamos muito da estética de um céu imenso, e mostrar como nós somos pequenos, mas ao mesmo tempo tão grandes nas atitudes que tomamos no dia a dia”, ressalta Peruck. O baixista explica que as outras cenas gravadas refletem as escolhas que as pessoas fazem diariamente. Nesse sentido, o refrão “nada vai mudar, se eu não mudar a mim mesmo”, é colocado em contexto. Peruck observa que essas imagens representam se as pessoas irão focar no erro ou buscar mudar, se irão levantar e fazer acontecer ou se vão permanecer sentados, reclamando.

Para o futuro, os planos seguem incertos para o local que será gravado o próximo clipe. Todavia, existe o desejo permanente. “Queremos sempre levar um pouco da nossa cidade, sendo um monumento, uma praça, um parque, um pub ou até uma casa”, confidencia Peruck.

Cenário musical catarinense: Ponto Zero conquista o Prêmio Mundial de Rock 2024

Reconhecimento, conquista e revelação de um novo cenário artístico. Essas palavras marcam a atmosfera que tomou conta do anúncio da classificação final do Prêmio Mundial de Rock 2024, onde a banda criciumense Ponto Zero se destacou e alcançou um novo marco para a cena musical catarinense. Com melodias envolventes e letras que exploram temas profundos e atuais, o grupo não só conquistou um prêmio nacional, mas também abriu portas para uma nova fase de sua carreira. Com a vitória, os integrantes da banda se apresentaram no dia 24 de novembro, em São José, dividindo o palco com artistas como Raimundos e Dazaranha, com um público estimado em mais de 20 mil pessoas.

Uma atitude sem pretensão que tomou uma proporção que nunca imaginavam. Essa pode ser a frase que definiu o futuro de uma banda catarinense que se inscreveu em um concurso musical apenas com a ideia de participar, sem uma intenção maior por trás. Um grupo sem muitas composições, concorrendo em meio a 200 artistas. “Tem muito trabalho muito bom e muito mais consolidado que o nosso”, comenta o vocalista da Ponto Zero, Lucas Valcanaia. Essa era a ideia que permanecia nele e nos outros membros do grupo. Nessa época eles possuíam apenas duas músicas lançadas, em um projeto especial do Linkin Park. Então, quando saiu o resultado das 10 bandas selecionadas, não conseguiram conter a alegria. “Foi um divisor de águas tanto na nossa carreira quanto no nosso âmbito pessoal a respeito da música”, define Valcanaia.

A partir desse momento começou a corrida para conseguir os votos necessários para a decisão popular de quem venceria o grande prêmio. O baixista da Ponto Zero, Guilherme Peruck, lembra que os pedidos para os amigos e familiares foram os primeiros a serem realizados. Após esse contato, os jovens tiveram a ideia de ir até um parque com um QR code em mãos para pedir ao pessoal em volta que votasse. “Pensávamos que havíamos conseguido em torno de 700 votos e fomos surpreendidos com mais de 2 mil votos, vindos de toda Santa Catarina, de modo orgânico, pela qualidade de nossas músicas”, conta Peruck.

Para o vocalista, o resultado não só apresentou o esforço que eles tiveram para conseguir os votos, mas também que muitas pessoas haviam se identificado com o trabalho que eles vinham montando há um bom tempo. Em meio a tanta dedicação, tanto com o tempo, dinheiro, esforço, noites sem dormir, stress, quanto com correria, o artista definiu que não há nada melhor do que ver que “tudo está valendo a pena”. Valcanaia pontuou que o fato de as pessoas estarem se identificando com o som criado, que estão entendendo aquilo que eles querem passar, já é uma grande vitória. “De alguma forma, a música da Ponto Zero faz sentido na vida das pessoas”, evidencia.

Som no ar, emoção no palco

Definido pelos artistas como um “salto gigante na nossa história, um ponto muito
importante na nossa caminhada”, a vitória do Prêmio Mundial de Rock 2024 levou a
banda criciumenses para São José no dia 24 de novembro de 2024 para fazer um show.
Diferente do público a que estavam acostumados, sendo uma média de 1.500 pessoas, o
palco em que fizeram a atmosfera vibrar teve uma expectativa de mais de 20 mil
pessoas presentes. Os rapazes irão cantar três músicas, todas autorais, com a intenção de
apresentar o seu trabalho para um novo público, que após escutar “Mestres”, “O Que Eu
Quis”, e uma música inédita, podem se tornar fãs fieis.

Nessa oportunidade, os artistas catarinenses dividiram o palco com talentos já
conhecidos nacionalmente como Raimundos, Ultramen e Dazaranha. “Poder estar nesse
meio, com pessoas tão incríveis, de trabalhos tão lindos e profissionais, é algo que
realmente nos traz uma felicidade. Até um empoderamento de identificar de fato o quão
valioso, o quão importante, o quão bonito é o nosso trabalho”, ressalta Valcanaia.

Texto: Letícia Cardoso

Fotos: @imperioteca; @leomartinello_