O medo e desesperança que a última enchente causou aos gaúchos jamais serão esquecidos. Milhares de pessoas foram afetadas em Porto Alegre, na região metropolitana e em mais de 400 cidades do Rio Grande do Sul. São pessoas que passaram e ainda passam por momentos difíceis que jamais esquecerão. Situações como as que a família Amaral viveram. Dos sete irmãos da família que moram em casas separadas na cidade de São Leopoldo, apenas uma não teve sua residência atingida e, assim, pode abrigar seus familiares.

“Inicialmente minha família veio por precaução para minha casa na sexta-feira, dia 3 de maio. Como eu moro em um lugar mais alto na cidade e haviam muitas informações sobre locais que estariam alagando, achamos ser o mais adequado”, relembra a executiva de vendas, Josi Amaral. Com 34 anos ela é a única irmã da família que não teve o imóvel atingido pela tragédia.

“O que ninguém imaginava aqui é que ao acordar no sábado, dia 4, o caos já estaria generalizado pela cidade. Muitas residências cobertas até o telhado com água, inclusive as casas das pessoas que estavam na minha casa”, relata Josi.

Para a enfermeira Viviane Amaral, a mais nova da família, a preocupação é com todos. Aos 28 anos, casada, mãe de dois filhos, ela perdeu absolutamente tudo. “O Alisson (esposo) ergueu somente a geladeira e a máquina de lavar e fomos para a casa da minha irmã. Foi desesperador! Confesso que a gente não acreditou que ia subir tanto, no sábado recebemos a notícia, fotos, imagens de que estava tudo alagado”, confirma Viviane.

Assim como Viviane e sua família, milhares de pessoas passaram por essa situação e são traumas que vão desde o momento em que o rio invade a cidade, e também no pós. “O bebê (filho) molhou a roupa, não tinha uma camiseta para colocar, a minha irmã conseguiu uma doação de uma roupa de menina. Mas ele disse que aquela blusa não era dele, a blusa era uma de princesa, porque a gente diz assim, né, que crianças meninas são princesas e eles são os príncipes. Vi o David, meu filho mais velho de 9 anos, dizendo para minha irmã que ele não ia contar para mim, porque sabia que eu estava triste, mas que ele estava com saudade de casa”, afirma ela.

O drama de um estado marcado por enchentes

Os acontecimentos acarretados pelas fortes chuvas no Rio Grande do Sul desde o último dia 29 de abril, que foram deslizamentos de terra, enchentes, alagamentos e inundações, trouxeram um cenário de caos e alerta máximo aos moradores da capital Porto Alegre e região. Os números são alarmantes, conforme informado pela Defesa Civil do estado, constata que são 169 o número de mortos, com 56 pessoas que ainda estão desaparecidas. Mais de 580 mil moradores seguem desalojados no maior evento climático da história que atingiu 89% das cidades gaúchas.

Mas a história nos mostra que esses acontecimentos estavam previstos, afinal, em 1941, uma grande enchente, que seria a maior da época até então, mostrava que a sociedade ao menos deveria ficar atenta em relação ao futuro.

À época, o nível do Guaíba, lago que banha a capital gaúcha, atingiu mais de 4 metros de altura, foram 22 dias de chuvas intensas que afetaram a bacia hidrográfica da Lagoa dos Patos, que é abastecida pelo Guaíba e outros rios do Rio Grande do Sul. Isso provocou uma elevação nos níveis dos rios estaduais e mais de 70 mil pessoas foram desalojadas.

Os números são assustadores e surpreende o fato de que essa tragédia tenha se repetido somente após 83 anos, porém, com força maior. Superando os números da década de 40, este ano o nível foi 50 centímetros a mais do que em 1941 no rio Guaíba, o que fez o Ministério Público procurar entender quem são os culpados e se eles de fato existem, entender a causa e o que houve de errado na prevenção a essas catástrofes.

Texto: Luarte Rosa, acadêmico de Jornalismo.