No núcleo urbano de Içara, uma casa centenária guarda um acervo de memórias de Içara e lembranças de uma época que não volta mais. O Museu Casa do Agente Ferroviário Anselmo Cargnin, que hoje recebe visitantes de toda a região, já foi o lar das famílias dos trabalhadores da Estrada de Ferro. Mais do que um espaço de histórias, a casa se tornou um símbolo do desenvolvimento cultural e industrial da cidade.
Tombado em 2008, na gestão do ex-prefeito Heitor Valvassori, o museu surgiu com a proposta de contar a história do Quilômetro 47 da Estrada de Ferro. Segundo o Vereador de Içara, Charles Cargnin a iniciativa ajuda a manter vivos dados significativos da cultura içarense. “Era preciso planejar a manutenção de alguma estrutura que pudesse preservar essas memórias, na medida em que a cidade vinha se modernizando”, declara o vereador. Ele também explica que a ideia de dar o nome do avô à casa se deve ao fato de ele ter sido um dos profissionais que mais tempo trabalhou como Agente Ferroviário na cidade. “Meu avô trabalhou em um período que misturava a história mais distante da história contemporânea. Então, tanto os mais antigos quanto os mais jovens, tiveram a oportunidade de conhecê-lo”, afirma Charles.
A ferrovia, segundo Charles Cargnin, impactou profundamente a urbanização da cidade. O Centro de Içara se desenvolveu justamente ao redor da estação do trem, que era o principal modal de transporte da época. Além disso, o telégrafo localizado na estação era o único meio de comunicação à distância. “O meu avô cumpria um papel de agente de telecomunicações: ajudava as pessoas no uso do telégrafo. Por isso, acabou se tornando uma pessoa muito conhecida na cidade por parte dos empresários e dos negociantes do agronegócio”, conta Charles.
Atualmente, a Casa do Agente Ferroviário recebe visitantes de todas as idades e também estudantes que, sob orientações dos professores, desenvolvem projetos escolares sobre a história da cidade. “Aberto de segunda à sexta, o museu preserva objetos, documentos e memórias ligadas à ferrovia e ao cotidiano local. Aqui, as gerações futuras conseguem ver como foi a vida de seus antepassados”, conta a estudante e recepcionista do museu, Isabela de Oliveira.
Um elo entre o passado e o presente
Além de fortalecer a cultura da região, o museu se tornou um elo entre gerações. Passado e presente se encontram na casa amarela ao lado dos trilhos de Içara.
Aos 16 anos, a estudante içarense Maria Vitória Viana reconhece o valor dessa preservação. “É uma parte importante da história da cidade, que se mantém viva por causa dessa memória. Mostra para as novas gerações que por ali já passou muita coisa que muitos nem imaginam”, declara.
Já para a assistente administrativa Neuza Graziela Ferreira, moradora há 36 em Içara, o museu desperta lembranças de sua infância e juventude. “Lembra de como vivemos e onde vivemos. É importante para sabermos da história da cidade em que residimos”, conta.
Apesar das diferentes gerações, as duas compartilham uma mesma preocupação: o desinteresse crescente pela história da ferrovia e da cidade. “Infelizmente muitos jovens não se interessam mais pelo que aconteceu antes de nós”, lamenta Maria Vitória.
Entre gerações distintas, o que permanece é a história. A casa centenária é uma das testemunhas de um passado que, mesmo em meio à modernidade, ainda encontra olhares dispostos a manter a história viva.


Texto escrito pela acadêmica da segunda fase de Jornalismo da UniSatc Gabriela Alexandrino Machado.
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