Entre rotinas movimentadas até as mais tranquilas, a forma como cada família vive pode ser relevante ao pensar na construção da residência ‘perfeita’. Com a ascensão do minimalismo na arquitetura moderna e da presença de cores mais neutras e estruturas lisas, a percepção de lar mudou desde a geração baby boomer (nascidos entre 1946 e 1964).

As redes sociais são importantes influências no momento de escolher a ‘casa ideal’, vendendo a ideia de cômodos e móveis específicos para cada atividade. Entretanto, em alguns casos, esse ambiente pode não se encaixar com a verdadeira realidade de quem vai habitar o espaço, segundo a arquiteta e urbanista, Gabriela Santos.

“Agora os projetos já não precisam de uma cozinha tão grande como antes, por que até a comida acaba sendo comprada pronta, e espaços de lazer são mais pensados para momentos de descanso mesmo”, exemplifica Gabriela.

O termo ‘casa de vó’ geralmente é associado a uma rotina leve, com espaços para receber visitas e entes queridos. Mas, apesar da nostalgia dos tempos antigos, a rotina dos moradores contemporâneos já não reflete essas necessidades. “Hoje, o tempo de lazer é um churrasco de domingo próximo à uma piscina nas famosas áreas gourmet”, explica a arquiteta.

Um olhar sentimental para a arquitetura

Em uma visita a Nova Veneza, o estudante de arquitetura, Lucas Mangrich, teve a oportunidade de analisar diversas edificações antigas, como as Casas de Pedra. Apesar das construções possuírem características arquitetônicas distintas entre si, segundo Mangrich, há algo em comum entre elas. “Elas eram pensadas para serem vividas, e não vendidas. Quando entramos nessas casas, sentimos nitidamente que pessoas viveram ali, vemos marcas na casa, retratos e objetos”, recorda.

O estilo minimalista veio à tona na construção das casas modernas como tentativa de ‘relaxar’ o cérebro. “O minimalismo tem seu valor, sobretudo com o recebimento excessivo de informações diariamente nas redes sociais. Porém, não vejo a tendência minimalista como a melhor opção para a arquitetura residencial”, pontua o estudante.

Para Mangrich, as residências se tornaram impessoais ao longo do tempo. Grande parte dos moradores contemporâneos desejam que a casa onde vivem esteja sempre milimetricamente arrumada, com o porcelanato brilhando e os pertences ‘escondidos’ na marcenaria sob medida. “Percebo que se perdeu o foco nos detalhes. Móveis feitos a mão, objetos de viagens, uma manta do sofá tricotada pela avó da moradora, são infinitas possibilidades para que a nossa residência se torne um lar”, destaca. 

O sentimento de pertencimento vai além de possuir uma varanda grande ou uma área gourmet bem feita. A verdadeira sensação de pertencer a algum lugar está diretamente ligada com a habilidade de desenvolver memórias afetivas naquele espaço. “Lembro muito bem das brincadeiras no quintal, dos almoços com todos reunidos na mesa da cozinha e dos momentos de comunhão entre toda a família”, relembra o universitário.