Nos últimos anos, uma série de pesquisas começou a multiplicar as alternativas para uso do carvão mineral.  Algumas delas apontam para uma nova era para o setor carbonífero, ampliando sua participação em cadeias produtivas tão distintas quanto o setor têxtil, o agronegócio, a indústria de eletroeletrônicos e de baterias para carros elétricos. Tem tudo para ser uma nova vida para o minério – e não seria a primeira vez.

O carvão foi o principal combustível das caldeiras de fábricas, trens e embarcações que impulsionaram a revolução industrial em meados do século 18. Teve papel essencial na expansão da siderurgia, como principal insumo para a transformação do ferro em aço.

No século 20, consolidou-se como uma das mais importantes fontes de energia, chegando a representar 40% de toda a geração mundial. Agora o carvão mineral pode ganhar uma nova vida. “Há um amplo leque de produtos, muitos deles de importância estratégica, com os quais a indústria carbonífera pode contribuir”, diz Marcio Zanuz, diretor técnico do Sindicato da Indústria de Extração de Carvão de Santa Catarina.

Muitos deles estão sendo desenvolvidos em parceria com empresas privadas ou centros de pesquisa internacionais. Veja a seguir cinco exemplos.

POZOLANA

O que é: Uma substância extraída das cinzas de carvão usada como ingrediente na composição do cimento, proporcionando mais resistência e durabilidade ao concreto.

Como pode ser obtido: A partir do processamento das cinzas do carvão mineral. Trata-se de uma inovação que já está bastante consolidada. Parte das cinzas geradas na produção de energia no Complexo Termelétrico Jorge Lacerda, em Capivari de Baixo, já é utilizada.

A substância e suas propriedades já são conhecidas há milênios. Obras da antiguidade como o Coliseu e o Panteão romanos tem nas suas estruturas pozolanas extraídas das cinzas vulcânicas do Vesúvio, coletadas na época na localidade de Pozzuoli, no sul da península italiana (de onde vem a origem do nome pozolana). A novidade é a sua produção a partir do carvão.

Principal aplicação: construção civil.

SULFATO DE AMÔNIA

O que é: Um insumo para a produção de fertilizantes nitrogenados, importante fonte de nitrogênio para as lavouras de trigo e milho, entre outras. O consumo brasileiro de sulfato de amônio é de pouco mais de 2 milhões de toneladas anuais, dos quais 87% são importados.

Como pode ser obtido: o sulfato de amônia pode ser produzido com o uso de amônia ao óxido de enxofre proveniente da combustão de uma termelétrica. Não se trata de qualquer usina, mas de uma tecnologia de combustão limpa, conhecida como Leito Fluidizado Circulante – essas geradoras podem utilizar como combustível o minério bruto extraído das minas e depósitos de rejeitos – reduzindo drasticamente a produção de rejeitos novos e possibilitando o uso econômico dos antigos, dando destino a esse material. Há no Sul de Santa Catarina três projetos de usinas desse tipo.

Principal aplicação: Agronegócio

ZEÓLITA

O que é: Um material sólido, microporoso. É um adsorvente – substância capaz de reter outras nos microporos de sua superfície, capaz de remover contaminantes de efluentes e separar gases, entre outras utilidades. A substância é amplamente utilizada em diversos setores industriais (uma de suas principais aplicações é no refino de petróleo).

Como pode ser obtido: O Centro Tecnológico da Satc (CTSatc) desenvolveu um processo para sintetizar a zeólita a partir das cinzas de carvão mineral – hoje uma das principais patentes da instituição. São avançadas as pesquisas para usar as zeólitas para capturar as emissões de carbono de termelétricas e indústrias.

Outro uso em estudo pelo CTSatc é a aplicação de zeólitas na indústria de fertilizantes – o material é usado para retardar a liberação de macronutrientes como fósforo, nitrogênio e potássio, aumentando a eficiência da adubação.

Principal aplicação: captura de carbono e agronegócio.

BISSULFITO DE SÓDIO

O que é: O bissulfito de sódio é um produto bastante usado em diversos setores industriais, entre os quais o têxtil, no qual é utilizado para retirar o excesso de cloro dos efluentes e branquear tecidos. O Brasil importa praticamente 90% do bissulfito utilizado no país. O principal produtor mundial é a alemã Basf.

Como pode ser obtido: O CTSatc desenvolveu uma tecnologia para produzi-lo a partir do enxofre extraído do rejeito do carvão. É uma oportunidade para dar destino comercial aos depósitos de rejeito, abrindo caminho para acelerar os investimentos em recuperação ambiental no Sul de Santa Catarina. A pesquisa está sendo desenvolvida em parceria com a Carbonífera Metropolitana.

Principal aplicação: setor têxtil, entre outros.

TERRAS RARAS

O que é: O termo “terras raras” se refere a um conjunto de substâncias  abundantes na natureza, mas de difícil extração – e por isso, consideradas raras. Ironicamente, deles depende o funcionamento de boa parte da economia digital: esses materiais são fundamentais na fabricação de chips, baterias, componentes eletrônicos e motores elétricos para uma gama de produtos como telefones celulares e computadores.

Sua demanda vem crescendo exponencialmente – e poderá ser mais uma vez impulsionada pela crescente eletrificação dos veículos.

Como podem ser obtidas: Uma cooperação do CTSatc com a Universidade de West Virginia, dos Estados Unidos, está impulsionando o estudo da extração desses elementos das cinzas de carvão e dos depósitos de rejeitos do sul catarinense.

Principal aplicação: indústrias de eletroeletrônicos e economia digital.

*Texto: Deize Felisberto, assessoria de Comunicação da ACIC.